quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

POESIA COTIDIANA 02 - RESULTADO

[...]

{6 horas e 25 minutos}

(tic-tac, tic-tac, tic-tac...)

* sono conturbado *


{6 horas e 30 minutos}

(trrriiinnn!!! / pãc)

- Ah, não!

* rotina *


{20 horas e 30 minutos}

* assistir TV *

passa, passa, passa, passa, passa...


{24 horas e 30 minutos}

* cansaço / insônia à remédio para dormir *

__________

[...]


MENDEL, G. M.. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.


Segundo poema dos três textos da “Poesia Cotidiana”, “Resultado” mostra as consquências causadas pela atribulada rotina que o ser humano comum tem de enfrentar diariamente. Acorda, normalmente, muito cedo, sem ter dormido o suficiente para recompor as suas energias. Em seguida, precisa dar um pulo da cama e se preparar às pressas para não chegar atrasado ao trabalho – e, mesmo sem condições fisiológicas, emocionais e/ou psicológicas, deve passar o dia correndo, dando conta de uma boa porção de tarefas. Retorna para casa apenas no início da noite e tenta descansar e se distrair assistindo à televisão, sem encontrar um programa que o faça se sentir melhor. Por fim, tenta dormir, perturbado por um contraste de cansaço e insônia. Por isso, ingere um sonífero, procurando, através de medicamentos, galgar condições de levar a sua vida adiante. É mais ou menos isso.

*** Lá vai um pouco de intertextualidade! Abaixo está uma composição da banda paulista Inocentes, a qual combina perfeitamente com o poema postado acima:


INOCENTES – Rotina (1986)

Acorda cedo para ir trabalhar
O relógio de ponto a lhe observar
No lar esposa e filhos a lhe esperar
Sua cabeça dói, um dia vai estourar, com essa

Rotina (Rotina!) (x4)

Sua cabeça dói, não consegue pensar
As quatro paredes a lhe massacrar
Daria tudo pra ver o que acontece lá fora
Mesmo sabendo que não iria suportar essa

Rotina (Rotina!) (x4)

Até quando ele vai aguentar?
Até quando ele vai aguentar? (Rotina)

No lar sua esposa lhe serve o jantar
Seus filhos brincam na sala de estar
Levanta da poltrona e liga a TV
Chegou a hora do programa começar

Rotina (Rotina!) (x4)

O homem da TV lhe diz o que fazer
Lhe diz do que gostar, lhe diz como viver
Está chegando a hora de se desligar
A sua esposa lhe convida para o prazer

Rotina (Rotina!) (x4)

Até quando ele vai aguentar?

Até quando ele vai aguentar? (Rotina)

Rotina (Rotina!) (x4)

Até quando ele vai aguentar?
Até quando ele vai aguentar?


Obs.: Em 1999, os Titãs gravaram uma nova versão dessa música, em um álbum intitulado “As dez mais”, constituído somente por versões de composições de outros artistas.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

POESIA COTIDIANA 01 – FIOS DE COBRE

[...]

(tu-tu-tu-tu-tu...)

- Droga! Deve tá na internet!

{5 minutos depois}

(tu-tu-tu-tu-tu...)

- Ah! Esperei poco!

{30 minutos depois}

(tuuu... tuuu...)

- Alô!?

- Aê! Consegui falá contigo!

[...]


MENDEL, G. M.. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.


Os três poemas que publiquei na obra "Humano Impresso" sob o título de "Poesia Cotidiana" resultaram de uma experiência frustrada. Eu quis retratar simples fatos cotidianos apropriando-me de sinais gráficos e figuras de linguagem, de modo a dar a esses acontecimentos uma cara de poesia. No entanto, após a publicação do livro, notei que as pessoas não entendem e/ou não gostam desses poemas. E eu, acertadamente, não persisti no erro de tentar criar mais textos desse feitio. Mesmo assim, irei postá-los aqui.


O texto "Fios de cobre" apresenta uma situação onde um interlocutor está fazendo uma ligação via telefone fixo para outro indivíduo, porém, não consegue concretizá-la, porque o destinatário estava conectado na internet - segundo as deduções do interlocutor que efetuou a chamada.


Por um lado, esse poema é histórico, já que registra o que normalmente ocorria no tempo da internet discada, uma tecnologia ultrapassada atualmente. Mas, por outro, não tem qualquer relevância dentro da literatura (pelo visto), sendo apenas um modesto gracejo infeliz dentro de uma pretensa obra literária.


Bem, é isso.

Até mais, pessoal!

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Criançada

Menininho
Sai correndo,
Cai de boca.
Vai chorar!

Menininho
Se esconde
Atrás da porta.
Vai sorrir!

Menininho
Está andando
De balanço.
Vai pular!

Menininho
Vai brincando,
Vai sorrindo.
Ele é feliz.


MENDEL, G. M.. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.


O poema "Criançada" foi a minha primeira tentativa de escrever algo voltado às crianças. (Eu não poderia postá-lo em um dia melhor, já que hoje é o Dia da Criança. E confesso que foi mero acaso.) Nele, tentei alcançar uma espécie de musicalidade típica das cirandas e de outras canções destinadas ao público infantil. E, em termos de conteúdo, tentei retratar o comportamento de uma criança ideal (no sentido de idealizada), que cai e se levanta logo em seguida, que está sempre correndo e emanando energia, que sonha e sorri a todo instante. É, em suma, um pequeno indivíduo que sintetiza e personifica a ideia que todo o adulto tem de infância, o qual é aquele período em que não há problemas e nostalgia, apenas descobertas e expectativa.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Postagem extremamente triste...

Hoje irei utilizar o blog para dar uma notícia brutalmente triste: na terça-feira, dia 27/09/2011, morreu Edson "Redson" Lopes Pozzi, guitarrista, vocalista e fundador da banda paulista Cólera, uma das melhores do mundo na minha modesta opinião.

Redson, que estava com 49 anos, era um dos maiores gênios que já surgiram no país, apesar de não ser reconhecido como tal. Não fazia músicas para ganhar dinheiro, mas para tentar fazer com as pessoas fossem um pouco mais conscientes de seu papel na sociedade.

Ele foi uma das maiores influências para mim, tanto como pessoa quanto como artista, pois suas músicas sempre me fascinaram de forma ímpar, comovendo-me como nenhum outro músico conseguiu até hoje.

Para nós, e para a História, fica como legado a belíssima arte desse verdadeiro artista (para os poucos que têm conhecimento dela, infelizmente) e o exemplo perfeito de alguém que não veio ao mundo a passeio e que não orbitava em torno do próprio umbigo.


Adeus, Redson!
E obrigado por tudo!

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Processo

Eu penso e sinto
Coisas que eu quero organizar,
Coisas que eu quero imortalizar,
Coisas que eu quero valorizar.

Então, lanço minhas vivências sobre o papel,
Tentando ser prestativo como o azul do céu,
Trocando ideias que nem eu mesmo entendo,
Fazendo com que mutantes continuem vivendo.

Assim, recheio o mundo de reflexões,
Em meio a um universo de opiniões,
Onde procuro o meu lugar no espaço,
E onde, aos poucos, eu me despedaço.


MENDEL, G. M.. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.


Este poema fala sobre o processo de criação da minha poesia - pelo menos aquele que ocorria em 2008. Eu colocava no papel todos os pensamentos e insights que desejava organizar (para entender), imortalizar (para deixar minha marca no mundo) e valorizar (para não jogar fora meu trabalho artístico).

É mais ou menos isso...
Até mais ver!

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Classe média

Acorda cedo
De um sono frustrado
Rodeado de medos
E de sonhos castrados

Chega na empresa
Já está estressado
Coloca-se à mesa
Pensando no tráfego

Alucinado pelo café
Fiel amigo no desespero
Ele sabe que pode ter fé
Pois Deus lhe deu um emprego

O serviço é turbulento
E ele deve produzir
Pois precisa garantir
O seu modo de sustento

[...]

O dia foi torturante
O trabalho foi estressante
A dor já não quer acabar
E o humor já não quer desabrochar

Ele chegou em casa
Depois de perder dois turnos
Só pensando em sua desgraça
Embriagando-se de ares soturnos

Não sabe mais o que fazer
Já não lhe resta tempo para pensar
Faz as contas do próximo mês
Percebe que o salário não vai durar...

Nem salvar a sua vida
Nem trazer sua felicidade
Nem divertir os seus dias
Nem recompor sua liberdade

Então, ele dorme
Ou... tenta dormir
Pois o sono lhe foge
Não lhe deixa sumir

Por isso adormece
Quando já é outro dia
Mas nunca se esquece
De fantasiar com magia



MENDEL, G. M.. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.


Eu adorava o poema "Classe média" até algum tempo atrás, pois tinha conseguido expressar nesse texto tudo aquilo que desejava: elaborar uma espécie de poema-narrativa, onde fosse retratado o cotidiano do homem moderno comum. Porém, revendo o resultado agora, não seria algo que eu escreveria e publicaria atualmente... (Não sei. Acho que perdi a graça - embora continue acreditando nas palavras que coloquei nos versos acima.)

***

Tanto o primeiro quanto o segundo livros são precariamente escritos, apesar de sugerirem reflexões extremamente válidas - o que me deixa muito feliz. Posso até não concordar nos dias de hoje com inúmeras ideias que desenvolvi nessas obras, mas é preciso admitir, humildemente, que, pelo menos, são volumes de conteúdo, que convidam a pensar.

Até a próxima postagem, pessoal!

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Paixão

Semente da obsessão
Geradora de devaneios
Encantadora de imagens
Velha irmã da loucura

Manipuladora do caráter
Destruidora da razão
Indutora de vontades
Mescladora de sentidos

Por favor, apareça!
Mas que seja,
Que somente seja,
Quando for correspondida!



MENDEL, G. M.. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.


O poema "Paixão" é um dos meus textos mais elogiados até hoje. Ao escrevê-lo, tentei retratar sucintamente tudo aquilo o que a paixão por alguém provoca nas pessoas. E, realmente, o resultado ficou muito bom, muito sincero, muito coerente.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

O bullying e eu

Assim como inúmeros outros desafortunados, sofri horrores quase que indescritíveis com o bullying, isso em um tempo (década de 90) onde nem existia tal conceito.

Para relatar esses meus pesadelos, é preciso retomar a história de minha vida até o ano de 2002, quando fiz 15 anos.

Minha vida até a primeira série

Até a primeira série do Ensino Fundamental, eu era uma criança extremamente feliz, idêntica às outras. Na época, a única frustração que possuía era a pouca habilidade para subir em árvores – atividade importantíssima na escola de Educação Infantil em que estudava.

No entanto, quando passei ao Ensino Fundamental, os adultos começaram a cobrar de mim uma postura completamente diferente, mais séria, a qual não conseguia assimilar. Eu era uma criança demasiadamente contente e brincalhona para a escola, e sofri em excesso por conta disso. Todos os dias a minha atenciosa mãe era chamada àquela instituição por causa das minhas travessuras, as quais, em verdade, eram atitudes naturais de um serzinho repleto de energia e vontade de viver.

A segunda série e a nova escola

Desse modo, para tentar resolver os nossos problemas, no momento em que eu entraria para a segunda série meus pais me trocaram de colégio. Lá, como não conhecia ninguém, foi mais fácil atingir o objetivo de me transformar em um robozinho, que apenas ficava parado, ouvia, fazia as atividades solicitadas e não conversava com os colegas. Isso fez com que eu ficasse cada vez mais fechado. E os demais meninos tentaram interagir comigo da pior maneira possível. Assim, fui ficando gradativamente menos tolerante e mais ofendido com as brincadeiras e traquinagens daquela sociedade inicial com a qual era obrigado a conviver. Foi aí que tudo teve início.

Cotidianamente vítima de agressões morais e verbais, tornei-me agressivo, respondão e valentão. E, quanto mais ficava nervoso, mais riam de mim e me agrediam verbal e fisicamente. Então, todos os dias eu e mais alguns garotos íamos para a direção e assinávamos advertências. Todos, por brigarmos. (Porém, em verdade, eles por me utilizarem de saco de pancadas; eu, por tentar me defender.)

As consequências disso foram as seguintes: meus pais continuavam sendo chamados à escola (e sabiam perfeitamente do que eu sofria, porque fazia questão de contar a ambos – o que foi muito importante); fui ficando ano a ano mais isolado, nervoso e depressivo, conquistando, involuntariamente, a fama de briguento no colégio; comecei a engordar, pois depositava as minhas frustrações na comida; e, por último, acabei me transformando em um opressor também, tendo em vista que agredia os mais raquíticos e bajuladores da escola – provavelmente um mecanismo de defesa para não acabar de uma vez por todas com a minha autoestima.

O bullying e o ódio pela escola

Após algum tempo sofrendo com o bullying, ir para a escola havia se tornado um pesadelo para mim, pois ia até lá para ser agredido e ofendido todos os dias, além de ser repreendido pelos diretores e coordenadores daquela instituição – simplesmente por me defender.

Passei a ter um ódio mortal pela educação. Não sei como o meu rendimento não caiu expressivamente por conta de tudo que acontecia comigo. Do contrário, fui me tornando um aluno diferenciado; quieto, problemático, mas dedicado.

O papel do meu irmão mais velho

Durante algum tempo, o meu irmão estudou no mesmo local que eu. Aqueles foram os anos menos complicados, porque, ao menor sinal de perigo, corria para os enormes braços do meu irmão, que, junto de seus amigos, protegiam-me dos meus algozes. Eles eram os meus heróis. Não faziam mal nenhum aos outros; apenas falavam que eu não estava sozinho e que eles eram maiores.

Contudo, logo o meu segurança teve de ir para outra escola, uma vez que a nossa, na época, não oferecia o Ensino Médio. E, desprotegido, fui atirado aos urubus, pois, agora, somente nos finais das aulas os meus protetores apareciam para revelar que eu tinha alguém concreto que olhava por mim – o que, de certa forma, amenizava a situação por pouco que fosse.

Por isso, cabe salientar o enorme papel que um irmão mais velho (e interessado) tem na redução dos efeitos do bullying.

O caso da capela

Certa vez, entrei em combate com um colega para me defender de suas agressões verbais e físicas, já que, invariavelmente, passei ano após ano sem levar desaforo para casa, tamanho o estresse que a situação toda me causava.

O “tio do recreio” nos levou à diretoria. E a diretora, utilizando-se de seus métodos, fez com que nós fôssemos à capela da escola e escrevêssemos cem vezes, em folhas de almaço, com letras bem caprichadas, a frase “Eu não devo mais brigar na escola.”. O outro deu uma de malandro, escreveu a sentença menos vezes, dando uma “maquiada” na tarefa, e foi-se embora antes do tempo. Eu, ficando sozinho na casa do Senhor, pensando que Ele havia me abandonado (porque me sentia o ser humano mais desgraçado do mundo), comecei a chorar um bom pouco, lamentando o meu azar. Terminado o trabalho (depois que todos já haviam ido para as suas respectivas casas), ainda chorando, deixei o manuscrito em cima da mesa da diretora. Em seguida, ainda chorando, fui para casa. Depois, não consigo recordar de mais nada. Ainda bem! Essa foi uma das piores experiências da minha vida.

A ida a Porto Alegre

Aos 13 anos, quando eu iria para a sétima série, o meu pai teve de ir trabalhar em Porto Alegre., apesar da grande mudança de contexto, tive a infelicidade de levar o bullying comigo.

Na metrópole, eu era apenas um guri estranho do interior: falava diferente, usava roupas diferentes, gostava de músicas diferentes, tinha costumes diferentes, era gordo, feio, triste e tímido. E os outros, os malandros da capital, sentiam-se deuses perto de mim. Para quase todos, a convivência com alguém do interior era um enorme motivo para que eles agradecessem terem nascido na capital, cidade importante, onde realmente faziam parte do mundo.

O retorno para Erechim

Eu tinha 14 anos e estava pronto para começar a cursar o Ensino Médio. Retornei à mesma instituição em que estudara antes de sair de Erechim. Os meus ex-colegas me reconheceram (e não me reconheceram). Ou seja, sabiam quem eu era, mas perceberam o quanto estava mudado.

Porto Alegre havia me transformado em um menino completamente isolado, o qual transpirava ódio, um adolescente bastante diferente da criança ainda capaz de sorrir que havia deixado para trás, na minha cidade natal.

Contudo, aos poucos, eles foram se reaproximando. Fui perdendo o medo e ganhando grandes e importantes amigos. Desse modo, pouco depois, no mesmo ano (2002), perdi mais de 20 kg em menos de três meses, o que me transformou em uma nova pessoa por dentro e por fora.

Além disso, aconteceu um fato de importância imensurável: o meu maior opressor de antigamente, voltando a ser meu colega, pediu perdão por conta própria, percebendo o quanto havia errado comigo. Isso fez com que a minha luta não tivesse sido em vão. Ali descobri que sempre havia sido a parte mais fraca, a minoria; todavia, não a errada.

As consequências do bullying para mim

Infelizmente, até hoje, quando alguém está dando risada próximo a mim, sempre me sinto bastante perturbado, envergonhado, pois tenho a sensação de que aqueles risos são direcionados à minha pessoa. Nas vezes em que isso acontece, fico pensando se há alguma coisa errada com minha postura, com minha aparência. Sei que isso nunca irá mudar, pois é algo que já ficou marcado.

Ainda, quando alguém me elogia, essas palavras evaporam logo. Porém, quando alguém me faz a mínima crítica, isso acaba comigo.

Portanto, prosseguirei sendo um ser humano diferente, um sobrevivente do bullying. Esse mal me deixou mais independente, sério, humilde e humano; alguém que prefere estar só a mal-acompanhado, trabalhar sozinho e fazer atividades individuais, como: ler, caminhar, escutar música, assistir a filmes. E, do meu jeito, faço a minha felicidade diária com as próprias mãos.

***

Por meio da minha experiência, sinto que não há nada que se possa fazer para reverter as consequências do bullying em uma pessoa. A única atitude possível (e necessária) a ser tomada é não praticá-lo.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Falta de tempo ou de interesse?

Diariamente, muitas pessoas falam que gostam de ler (e até mesmo que gostariam de ler determinada obra em especial), mas que não têm tempo para tal atividade ao longo de seus dias. No entanto, seria essa mais uma consequência da nossa cada vez mais atribulada rotina ou apenas mais uma desculpa para escapar da leitura?

Esses indivíduos alegam que acordam cedo, trabalham durante o dia inteiro, retornam às suas casas apenas à noite, fatigados, estressados, e têm mais uma boa quantidade de tarefas pendentes a resolver. Porém, duvido que eles não consigam contar com pelo menos dez ou quinze minutos diários para dedicar à leitura de um livro - principalmente no quarto, antes de se deitarem.

Por isso, acredito que a falta de tempo é mais uma justificativa quase convincente para esconder a preguiça, cujo poder oprime os seres humanos desde sempre, fadando-os à lei do menor esforço. E, desse modo, eles fogem do exercício, da leitura, do alongamento, do passeio com o cachorro, entre outras necessidades que exigem vontade para serem realizadas.

domingo, 8 de maio de 2011

Dor de cabeça

Dor repentina
Dor passageira
Dor que alucina
Dor costumeira

Resultado do acúmulo
Resultado do exagero
Resultado do infortúnio
Resultado de um anúncio

A denúncia da doença
A pronúncia da sentença
O prenúncio de uma queda
O prescrito de uma era

Ela é sempre um alerta
P’ra esse demente estilo de vida
Ela é sempre o produto
Dessa fervente alma esvaída

[...]

Muitas coisas podem ser ditas
No verso de qualquer lugar
Dizer aquilo que ninguém quer saber
Mostrar aquilo que todos querem esconder


MENDEL, G. M. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.


"Dor de cabeça" é um dos meus poemas mais significativos, tendo em vista que sempre tive intensas dores de cabeça, cuja força e frequência normalmente me transmitem medo e preocupação.

Levando em conta o panorama acima descrito, procuro transcrever no texto tudo o que penso e sinto em relação a esse transtorno - o que fiz com relativa competência (acredito eu), principalmente por ter conhecimento de causa.

Por hoje é só.
Até a próxima!

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Sociedade sem saciedade

Estou cercado por arranha-céus
Reluzidos por um único farol
E não posso ver o céu
Reduzido por um vulto de sol

Estou andando parado em casa
Não gosto mais de sair
Só penso em construir asas
Que me façam voar por aí

Estou com medo dessas ruas
Há muita gente por lá
As vitrines são todas suas
O dinheiro poderá me comprar

Eu sei que existe um motivo
Que devora o nosso juízo
Não posso acabar com isso
Não posso desistir desse vício

Por isso eu quero remédios
Que me tornem alguém normal
Porque isso é realmente sério
Eu quero ser especial

Por isso eu quero mistérios
Que eu possa desvendar
Porque esse troço é venéreo
E eu quero ser comercial



MENDEL, G. M. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.


Para comentar sobre esse poema, citarei um trecho de um texto onde o genial escritor José Cândido de Carvalho comenta a respeito das mudanças ocorridas no mundo em um período compreendido entre 25 anos:


[...] Publiquei o primeiro livro em 1939 e o segundo precisamente vinte e cinco anos depois. Entre Olha para o céu, Frederico! e O coronel e o lobisomem o mundo mudou de roupa e de penteado. Apareceu o imposto de renda, apareceu Adolf Hitler e o enfarte apareceu. Veio a bomba atômica, veio o transplante. E a Lua deixou de ser dos namorados. Sobrevivi a todas essas catástrofes. E agora, não tendo mais o que inventar, inventaram a tal da poluição, que é doença própria de máquinas e parafusos. Que mata os verdes da terra e o azul do céu. Esse tempo não foi feito para mim. Um dia não vai haver mais azul, não vai haver mais pássaros e rosas. Vão trocar o sabiá pelo computador. Estou certo que esse monstro, feito de mil astúcias e mil ferrinhos, não leva em consideração o canto do galo nem o brotar das madrugadas. Um mundo assim, primo, não está mais por conta de Deus. Já está agindo por conta própria.

(Niterói, setembro de 1970)


CARVALHO, J. C. de. Porque Lulu Bergantim não atravessou o Rubicon. Rio de Janeiro-RJ: Rocco, 2003. p. 08.


***

E por que eu adicionei essas magníficas palavras expostas acima como comentários sobre o meu texto? Porque José Cândido de Carvalho, em 1970 (!!!), previu os tristes fatos que critiquei por meio do poema.

Por hoje é só.
Até a próxima!

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Sem dó e sem dor

Você dá conta?
Você dá conta de mim?

Você dá conta...
Desta história sem fim?

Você não sabe...
Que o amor é assim?

Você não sente...
Que a sua flor é jasmim?

Você não vê...
Que a sua cor é marfim?

Você não sabe, não sente e não vê
Que eu só sei te querer (sem poder)!

Não sente amor, não sabe a cor...
Só vê flores...;
Sem dó e sem dor!


MENDEL, G. M.. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.


* O poema "Sem dó e sem dor" até que é bonzinho: é bem construído, além de possur uma musicalidade interessante e alguns sentidos relativamente válidos.

* Ele também surgiu como letra de música (o que favoreceu a musicalidade) e acabou virando poema.

* O texto fala, basicamente, sobre romances volúveis, irresistíveis (no sentido de não resistirem ao mínimo estresse).

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Poesia: por que não?

Normalmente, as pessoas com quem eu falo afirmam que não gostam de poesia. Porém, não é que elas simplesmente não gostem de poesia. Em verdade, esses que torcem o nariz para tal gênero sentem medo dele, pois não o entendem.


A poesia tem menos recursos linguísticos (pistas) que facilitem a interpretação do que qualquer texto em prosa. Ou seja, além de tradicionalmente ser elaborada com menos palavras, as que são escolhidas são posicionadas de modo a serem transformadas, a se tornarem multifacetadas.


Assim, os poemas estão para seus possíveis leitores como Gulliver para os lilliputianos. E, por conta disso, eles têm em mente que é preciso ser um Hércules para derrotar os titãs, que é preciso ser um Édipo para decifrar o enigma da esfinge, que apenas uns poucos escolhidos têm os poderes necessários para tirar bom proveito da poesia.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Meu medo é mesmo cego!

O medo que eu tenho
É o mesmo que o seu
O mesmo que eu sou
É o medo que eu tenho

Eu tenho o mesmo medo
Que você me ensinou
Eu temo tudo aquilo
Que o tempo esqueceu

Meu medo é tão cego
Que não pode enxergar
A causa desse medo
Que a cegueira enviou

É fácil ter um medo
Quando o medo quer você
É fácil ser um cego
Quando a vida é sem porquê


MENDEL, G. M.. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.


Eu gosto desse poema, porque é um texto jocoso, mas profundo. Só que não vou cometer o crime de interpretá-lo, pois isso acabaria com a riqueza dessas estrofes. Enfim, acredito que fui infinitamente feliz na construção desse poema - surgido com certa naturalidade. Simplesmente veio... e o meu trabalho foi apenas o de transcrevê-lo para o papel. É assim que surgem os melhores poemas, as melhores ideias, as melhores iniciativas.

Espero que todos tenham gostado e compreendido as mensagens explícitas e implícitas nesses versos.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Problemas

Problemas me assombram!
Não me deixam dormir.

Problemas me arrastam
Para um lugar sem mim.

Problemas me afogam!
Não me deixam existir.

Problemas são só problemas!
O que me faz ser assim?



MENDEL, G. M.. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.


Esse é outro poema que nasceu como música. Em seu formato original, tinha inclusive uma melodia bastante interessante.

Porém, levando em conta o meu insucesso como músico e, estudando a carreira que eu estava (estou) construindo como poeta, percebi que essa composição daria um bom poema. Por isso, lancei mais uma letra de música como poema. E espero que tenha tomado uma decisão acertada.

terça-feira, 1 de março de 2011

O lado bom da vida

O lado bom da vida é viver!
Sobreviver fazendo o que se gosta.

O lado bom da vida é sonhar!
Para esquecer que um dia você vai dormir para sempre.

O lado bom da vida é construir!
Para esquecer que você também é capaz de destruir.

O lado bom da vida é lembrar!
Para não se esquecer dos momentos felizes.

O lado bom da vida é crescer!
Evoluindo intelecto, evoluindo corpo.

O lado bom da vida é envelhecer...
Sabendo que valeu a pena escrever sua autobiografia.

O lado bom da vida é morrer...
Sabendo que você faz falta para muita gente.



MENDEL, G. M.. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.


Esse texto agrada a muita gente, pois é profundo e positivo.

***

Só isso por hoje...

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Entendendo você

Você é gente!
A gente é você!

Você é uma coisa!
As coisas são você!

Quando você esquecer,
Esquecer de você!
Quando você estiver,
Estiver por aí!

Satânicos...
Vão parecer (seus atos)!
Orgânicos...
Vão parecer (seus traços)!

Para você entender,
Entender o porquê?
Para você se render,
Se render e vencer!

Satânicos, orgânicos...
Insensatos!

Mecânicos, eletrônicos...
Malditos!



MENDEL, G. M.. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.


O poema "Entendendo você" nasceu como uma letra de música. Na realidade, só não virou música porque não tenho habilidade para musicá-la. Ou melhor, o ritmo até já existe - e é algo do tipo Titãs do começo da carreira. Porém, o que falta é capacidade para tocá-la e gravá-la.

Nunca consegui ler esse texto como poema, tendo em vista que, basta ele surgir na minha frente, o ritmo da "música" vem a minha mente. Inclusive, as partes entre parênteses, meio sem sentido em se considerando o poema, seriam os trechos em que entraria o backing vocal.

***

O fato é que vários dos poemas que já produzi recebi¹ como canções. No entanto, por falta de recursos humanos e materiais, transformei-as em textos poéticos, de modo a facilitar a sua divulgação.

É isso.


___

1 Digo "recebi" atentando ao fato de que, quando crio um poema do qual realmente gosto, parece que ele surge de outro, como se eu estivesse possuído ou fosse uma espécie de Chico Xavier.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Eu sou

Eu sou filho de outros tempos
Quando o sol brilhava mais
E o céu era o limite

Eu sou sujeito de uma vida
Iluminada pelo sol
E ofuscada pelo céu

Eu sou gente como tu
Tentando ser um sol
Tentando ser um só...
Limitado pelo céu

Eu sou produto social
Que não tem medo do fogo do sol
Que não se contenta com os limites do céu
Mas que tem medo da frieza de um só




MENDEL, G. M.. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.


Esse poema é realmente sobre mim. Nele eu exponho toda a minha determinação e a minha impaciência.

* Julgo ser determinado, porque essa característica já me levou a grandes coisas: emagreci mais de 20kg em menos de três meses (quando tinha 15 anos); publiquei meus livros (banhados a suor); sou poeta e não desisto nunca; etc.

* Julgo ser impaciente, porque preciso sempre de resultados imediatos, de pouca complicação: se não fosse pelos meus pais, provavelmente eu não teria terminado nenhum dos cursos que já fiz e não terminaria o que estou fazendo, levando em conta que desisti do curso de violão, do curso de baixo... não terminei nem a catequese, e assim por diante.

E não me condeno por isso. Pois, a princípio nós só temos uma vida. Assim, não carece ficar enrolando com muita coisa.

***

Eu não preciso de muito para viver: necessito da minha família, da mulher que amo, das coisas pelas quais prezo (livros, DVDs, CDs; ou seja, injeções de ânimo), de um trabalho que não me aprisione muito, de um lugar próprio para morar, de um carro simples e sem problemas para me locomover, de tempo para me exercitar, de tempo para relaxar e, como resultado de tudo isso, paz.


É isso.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

A avenida, o centro e o caos

Movimentação
Instinto de grupo
Espírito de trupe
Aglomeração

O medo em seus olhos
A pressa em seus ossos
O ódio em seu sangue
Nenhum semelhante

Aglomeração
Espírito de trupe
Instinto de grupo
Movimentação



MENDEL, G. M.. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.


Eu gosto demais deste poema! Até hoje é um dos meus favoritos. Ele fala sobre a correria que acaba com os dias de praticamente todas as pessoas atualmente, assoladas por um turbilhão de informações, tarefas a cumprir e (des)encontros fulminantes.

Como não estou muito inspirado para comentar hoje - o faço apenas pela necessidade de atualizar o blog -, vou parar por aqui. Porque é preciso correr

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Números

Sete vidas
Sete dias
Sete horas sem você

Doze meses
Doze vezes
Doze tardes sem você

Cem momentos
Cem palavras
Contra o vento
Nessa estrada

Cem prazeres
Cem memórias
Cem mulheres
Cem histórias



MENDEL, G. M.. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.


Tenho muito orgulho do poema “Números”. Nele consegui desenvolver a poesia na qual acredito: simples, lúdica, breve, rica semanticamente e afinada na sintonia entre forma e conteúdo. Além disso, é um texto sem conclusão, o que é mais uma característica interessante, pois o leitor acaba de lê-lo sem saber se existe um “você”, se o eu-lírico é mulherengo ou solitário, se ele tem ou não histórias para contar. (E “Contra o vento / Nessa estrada”. Mas que vento? Em qual estrada? É tudo por conta do leitor.)

É como acontece em um poema do grande artista Ademir Antonio Bacca, de Bento Gonçalves-RS:

fim de noite

no
último
táxi
da
madrugada
não
tinha
carona
pra
minha
solidão


(BACCA, A. A.; GONÇALVES, C. (org.). Poesia do Brasil – Volume 8. Porto Alegre-RS: Grafite, 2008.)

Sugestão de interpretação: O poema é bem sugestivo. Por um lado, pode-se inferir que a solidão do eu-lírico era tão grande que não cabia em lugar algum. Por outro, é possível observar que o taxista deu carona para o poeta, mas não para a solidão, o que deixa a seguinte questão: será que ele voltou só ou não?

Sensacional (ponto final)