terça-feira, 13 de abril de 2010

O mal do tempo

Tenho nojo do tempo
Do mal que nos faz
O novo inventa
O antigo agüenta

Triste sabedoria
Almejando a ingenuidade
Agora descansa
Tem saudades do cansaço

Agora vives cansado
Não sonhas com nada
Esqueces de tudo
Repete as palavras

Beirando a morte
Triste e enfermo
Frágil e amante
De lembranças queridas


MENDEL, G. M. Humano Expresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2007.


Criei esse poema após a morte do meu avô paterno. Apesar das variações dos pronomes pessoais e das repetições, características recorrentes nos meus textos daquela época, "O mal do tempo" sempre me pareceu um assunto pertinente.

Na primeira estrofe, procurei tratar do caráter refutável que o velho tem em nossa sociedade. Os idosos são tratados como aparelhos eletrônicos fora de linha, sendo jogados em qualquer canto para que esperem o tempo lhes consumir.

Continuo nessa linha de pensamento na estrofe seguinte: os aposentados são ultrapassados e, por isso, devem apenas descansar depois de uma vida inteira de trabalho - um dos eufemismos mais claros que se tem notícia.

Após, refiro-me especificamente ao meu vô, que, nos seus últimos anos, tinha sua saúde e seu ânimo abalados pelo Mal de Alzheimer e pela quase cegueira.

Por fim, ressalto o caráter romântico do estado deprimente em que estava o meu muito querido familiar: inseria-se cada vez mais no mundo de sua infância, não mais como nostalgia, mas como realidade. Ou seja, procurava constantemente pela casa onde morava quando era criança, confundia filhos e netos com seus irmãos, perguntava para o meu pai em que lugar havia amarrado o cavalo; só não esquecia da minha avó, embora raras vezes a tratasse por "mãe", o que não seria de forma alguma uma mentira.

É mais ou menos isso...

Até breve, caros leitores.

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