sexta-feira, 4 de junho de 2010

De tudo

Hoje veja
Hoje seja
Seja um louco
Seja um pouco...
De tudo

Hoje corra
Hoje morra
Mas tente
Mas invente...
De tudo

Hoje chore
Hoje sorria
Hoje namore
Hoje desistia...
De tudo



MENDEL, G. M. Humano expresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2007.


"De tudo" é um poema simplíssimo, mas com pontos interessantes. No final das estrofes, por exemplo, a expressão “de tudo” marca um dos aspectos mais legais desse produto da ansiedade (na minha modesta opinião): ela vai do positivismo dos dois primeiros segmentos ao negativismo do último, quando a quebra do caráter animado do texto é feita por meio do verso “Hoje desistia...”. Pois anteriormente, independentemente de quais fossem as atitudes tomadas (tornar-se um louco desenfreado; correr, morrer, tentar, inventar; chorar, sorrir, etc.), o indivíduo estaria apenas vivendo intensamente, “curtindo a vida adoidado”. E em seguida há um rompimento do ritmo anterior, causado pelo sentido da expressão “desistir de tudo”, que indica um descontentamento com a própria vida, e pelo tempo verbal mal-empregado naquela construção, que chama a atenção por não se encaixar de forma perfeita linguisticamente, tanto no poema quanto na percepção dos leitores (acredito eu).

Enfim, bom ou ruim, é um texto que trata sobre a inconstância do espírito e a bipolaridade da existência, com seus altos e baixos...

Fui!

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