quarta-feira, 27 de abril de 2011

Sociedade sem saciedade

Estou cercado por arranha-céus
Reluzidos por um único farol
E não posso ver o céu
Reduzido por um vulto de sol

Estou andando parado em casa
Não gosto mais de sair
Só penso em construir asas
Que me façam voar por aí

Estou com medo dessas ruas
Há muita gente por lá
As vitrines são todas suas
O dinheiro poderá me comprar

Eu sei que existe um motivo
Que devora o nosso juízo
Não posso acabar com isso
Não posso desistir desse vício

Por isso eu quero remédios
Que me tornem alguém normal
Porque isso é realmente sério
Eu quero ser especial

Por isso eu quero mistérios
Que eu possa desvendar
Porque esse troço é venéreo
E eu quero ser comercial



MENDEL, G. M. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.


Para comentar sobre esse poema, citarei um trecho de um texto onde o genial escritor José Cândido de Carvalho comenta a respeito das mudanças ocorridas no mundo em um período compreendido entre 25 anos:


[...] Publiquei o primeiro livro em 1939 e o segundo precisamente vinte e cinco anos depois. Entre Olha para o céu, Frederico! e O coronel e o lobisomem o mundo mudou de roupa e de penteado. Apareceu o imposto de renda, apareceu Adolf Hitler e o enfarte apareceu. Veio a bomba atômica, veio o transplante. E a Lua deixou de ser dos namorados. Sobrevivi a todas essas catástrofes. E agora, não tendo mais o que inventar, inventaram a tal da poluição, que é doença própria de máquinas e parafusos. Que mata os verdes da terra e o azul do céu. Esse tempo não foi feito para mim. Um dia não vai haver mais azul, não vai haver mais pássaros e rosas. Vão trocar o sabiá pelo computador. Estou certo que esse monstro, feito de mil astúcias e mil ferrinhos, não leva em consideração o canto do galo nem o brotar das madrugadas. Um mundo assim, primo, não está mais por conta de Deus. Já está agindo por conta própria.

(Niterói, setembro de 1970)


CARVALHO, J. C. de. Porque Lulu Bergantim não atravessou o Rubicon. Rio de Janeiro-RJ: Rocco, 2003. p. 08.


***

E por que eu adicionei essas magníficas palavras expostas acima como comentários sobre o meu texto? Porque José Cândido de Carvalho, em 1970 (!!!), previu os tristes fatos que critiquei por meio do poema.

Por hoje é só.
Até a próxima!

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Sem dó e sem dor

Você dá conta?
Você dá conta de mim?

Você dá conta...
Desta história sem fim?

Você não sabe...
Que o amor é assim?

Você não sente...
Que a sua flor é jasmim?

Você não vê...
Que a sua cor é marfim?

Você não sabe, não sente e não vê
Que eu só sei te querer (sem poder)!

Não sente amor, não sabe a cor...
Só vê flores...;
Sem dó e sem dor!


MENDEL, G. M.. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.


* O poema "Sem dó e sem dor" até que é bonzinho: é bem construído, além de possur uma musicalidade interessante e alguns sentidos relativamente válidos.

* Ele também surgiu como letra de música (o que favoreceu a musicalidade) e acabou virando poema.

* O texto fala, basicamente, sobre romances volúveis, irresistíveis (no sentido de não resistirem ao mínimo estresse).

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Poesia: por que não?

Normalmente, as pessoas com quem eu falo afirmam que não gostam de poesia. Porém, não é que elas simplesmente não gostem de poesia. Em verdade, esses que torcem o nariz para tal gênero sentem medo dele, pois não o entendem.


A poesia tem menos recursos linguísticos (pistas) que facilitem a interpretação do que qualquer texto em prosa. Ou seja, além de tradicionalmente ser elaborada com menos palavras, as que são escolhidas são posicionadas de modo a serem transformadas, a se tornarem multifacetadas.


Assim, os poemas estão para seus possíveis leitores como Gulliver para os lilliputianos. E, por conta disso, eles têm em mente que é preciso ser um Hércules para derrotar os titãs, que é preciso ser um Édipo para decifrar o enigma da esfinge, que apenas uns poucos escolhidos têm os poderes necessários para tirar bom proveito da poesia.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Meu medo é mesmo cego!

O medo que eu tenho
É o mesmo que o seu
O mesmo que eu sou
É o medo que eu tenho

Eu tenho o mesmo medo
Que você me ensinou
Eu temo tudo aquilo
Que o tempo esqueceu

Meu medo é tão cego
Que não pode enxergar
A causa desse medo
Que a cegueira enviou

É fácil ter um medo
Quando o medo quer você
É fácil ser um cego
Quando a vida é sem porquê


MENDEL, G. M.. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.


Eu gosto desse poema, porque é um texto jocoso, mas profundo. Só que não vou cometer o crime de interpretá-lo, pois isso acabaria com a riqueza dessas estrofes. Enfim, acredito que fui infinitamente feliz na construção desse poema - surgido com certa naturalidade. Simplesmente veio... e o meu trabalho foi apenas o de transcrevê-lo para o papel. É assim que surgem os melhores poemas, as melhores ideias, as melhores iniciativas.

Espero que todos tenham gostado e compreendido as mensagens explícitas e implícitas nesses versos.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Problemas

Problemas me assombram!
Não me deixam dormir.

Problemas me arrastam
Para um lugar sem mim.

Problemas me afogam!
Não me deixam existir.

Problemas são só problemas!
O que me faz ser assim?



MENDEL, G. M.. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.


Esse é outro poema que nasceu como música. Em seu formato original, tinha inclusive uma melodia bastante interessante.

Porém, levando em conta o meu insucesso como músico e, estudando a carreira que eu estava (estou) construindo como poeta, percebi que essa composição daria um bom poema. Por isso, lancei mais uma letra de música como poema. E espero que tenha tomado uma decisão acertada.