quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Pela arte de Marte

Eu luto, cada vez mais,
Pela arte de Marte:
Do planeta da sorte,
Não da estrela da morte!
Porque a da Terra se enterra,
Num furo sem futuro,
Com perdas morais.

Pois, nesse mundo imundo,
A paz não é capaz,
Da floresta nada resta,
Dinheiro é companheiro,
Beleza é impureza,
E o homem?
O homem não merece rimar com nada!


(MENDEL, G. M.. Sobretudo. Erechim-RS: EdiFAPES, 2010. p. 12.)


"Pela arte de Marte" fala, sobretudo, sobre a minha descrença no ser humano, porque não valoriza a arte de qualidade, a qual permanece clandestina ao grande público, sendo a cultura difundida ao povo alienante e manipuladora. E esse é um contexto bastante interessante para o sistema capitalista, já que dispõe de pessoas ignorantes e passivas para usar (e não de  indivíduos sábios e questionadores, que poderiam causar problemas). Além disso, o homem transforma esse mundo em um imundo, repleto de violência, destruição, injustiças, crueldade, entre outras coisas. Desse modo, essa gente não merece rimar com nada.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Osmose Inversa

Todo o ser humano
Faz uma osmose inversa:
Passa do meio menos concentrado
Para o mais concentrado.

Eu não!
Sempre sigo as leis da ciência:
Passo do meio mais concentrado
Para o menos concentrado.

***

Todo o ser humano
Tem medo da solidão.
Ela é muito perigosa
E revela vários monstros!

Eu não!
Não tenho medo dela!
Pois cresci só,
E, assim, eu só cresci.


(MENDEL, G. M.. Sobretudo. Erechim-RS: EdiFAPES, 2010. p. 11.)


"Osmose Inversa" é o primeiro poema do livro "Sobretudo", minha última obra publicada até o momento. Nesse texto comento sobre a necessidade de alguma solidão para a verdadeira descoberta interior. Faço isso comparando os movimentos humanos com a osmose, conteúdo que aprendi vagamente durante o Ensino Médio.

FIM!

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Assim que chutei uma pedra, encontrei inúmeros iguais a mim, iludidos ou ignorados...

Em qualquer sala de aula tem gente escrevendo poesia. Em qualquer bairro, comunidade, distrito ou viela, por mais insignificante que seja, tem gente escrevendo poesia. Isso é estranho, porque ninguém mais valoriza a poesia, ninguém entende nada sobre poesia, mas uma incontável multidão de indivíduos escreve poemas. 

Todos esses escritores (na maioria das vezes informais) seriam poetas não reconhecidos pela sociedade cultural e pelo mercado editorial (que nem pensa mais em poesia, já que poemas não são produtos de fácil comercialização)? Ou poucos deles seriam realmente poetas, no verdadeiro sentido da palavra?

Quando comecei a escrever poesia, aos 15 anos, usava tal atividade como válvula de escape. Depositava ali todos os meus problemas e desabafos, imaginando que estava escrevendo algo bastante importante e exclusivo. E é o que a maioria dos poetas atualmente faz. Embora tenha muita gente que escreva poesia só para aparecer. Tem gente que fala sobre flores, tem gente que fala sobre amor, tem gente que fala sobre sexo... A gama de assuntos é bem variada. E não importa a qualidade desses textos. Quem mais trabalha as relações sociais é quem mais vende livros*. (* Existem também aqueles escritores de internet, que têm uma imensa produção virtual e não têm nada publicado no papel.)

Refletindo sobre essas questões, fico procurando o meu lugar: 
- Será que sou um dos poucos bons poetas, criando textos de real qualidade?
- Será que sou apenas mais um dos inúmeros que pensa ser um grande escritor?
- Será que meus livros têm valor ou apenas fiz papel de idiota, gastando um dinheiro que eu nem tenho?

Sem conseguir responder a qualquer uma dessas perguntas, o fato é que lançarei o meu próximo livro ainda neste ano (assim espero). E, embora esteja evoluindo muito como poeta, no presente momento não sei qual será o sentido mais coerente dessa produção, se será somente a minha quarta obra ou se será a última. Enfim, erro ou não, uma vez dado o primeiro passo com o "Humano Expresso", agora devo continuar a caminhada.

domingo, 15 de setembro de 2013

Lágrimas de Deus

Perdi-me num lugar em branco.
Não havia nada lá:
Nem saídas, nem entradas;
Nem ruínas, nem estradas.

Eu corria sem sair do lugar,
E adormecia sem ver o luar.
O tempo não passava,
Nem eu envelhecia.

Então, um dia,
Começou a chover.
E, para meu espanto,
Eram lágrimas de Deus.

Quando tudo acabou,
Ele olhou para mim,
E, perturbado, falou:
"Filho, estás fora do Universo!?"


(BACCA, A. A.; GONÇALVES, C.. Poesia do Brasil. Vol. 8. Bento Gonçalves-RS: Grafite, 2008. p. 192)

Escrevi este poema há muitos anos, como é possível observar pelos erros de pontuação. Foi um dos meus primeiros textos, quando eu estava cursando o Ensino Médio. Ele não entrou para o primeiro livro, mas, algum tempo depois, reconheci a qualidade do texto (para mim) e fiz alguns ajustes, vindo a publicá-lo na já referida antologia.

Não há um significado específico para esse poema. É mais um dos textos que simplesmente me surgiram. Então, antes de tentar explicar o que eu quis dizer com ele, prefiro que os leitores o interpretem da sua maneira (o que é muito mais produtivo, na minha opinião).

***

Enfim, acabam por aqui os poemas da antologia. Desse modo, a partir da próxima postagem, publicarei alguns textos de "Sobretudo", minha última obra publicada até hoje. Em breve, mandarei para a editora meu mais novo livro, provavelmente o menos pior da minha carreira. Espero que, quem apoiá-lo, não se aborreça com a leitura.

Tchau!
Obrigado pela atenção e pela leitura!

sábado, 7 de setembro de 2013

Sobre o silêncio e alguma solidão

Exilado e preso
É como estou agora.
Mas esse já não é
Mais um poema triste.

Tenho um livro na mão
E dois voando...
Eles são meus amigos -
E não sustentam a solidão.

Esses livros, os três,
São cárceres benditos.
E suas páginas...
São carcereiros de ideias.

***

Isso, então, é a razão do livro:
- Aprisionar ideias fujonas,
Ideias livres e contra a lei.

Por qual motivo? Eu sei!
- Resgatar no ser humano
O que está morto dentro dele.


(BACCA, A. A.; GONÇALVES, C.. Poesia do Brasil. Vol. 8. Bento Gonçalves-RS: Grafite, 2008. p. 191)