quinta-feira, 22 de julho de 2010

Crítica aos críticos

Eu sei que já falei sobre o ato de criticar em si num texto intitulado “Sobre a crítica e a autocrítica”. Porém, gostaria de complementar aquele escrito falando a respeito de algumas consequências que os censores causam.

Muito se discute a respeito da pouca leitura em nosso país, bem como da má leitura efetuada pelos poucos que se propõe a ler (redundantemente tratando, como o assunto permite). No entanto, como desejar que alguém que nunca lê o faça tão profundamente quanto um mergulhador descobrindo os mistérios de um mar pouco explorado?

Outra cena que me perturba é a seguinte: considerem o mesmo cidadão inculto mencionado acima. Esse indivíduo, tendo em mente que a leitura é uma coisa boa (de acordo com o que a TV afirma), pega para ler o novo livro mais vendido de um autor tido como fraco pelos críticos literários. Seleciona exatamente essa obra por estar em uma grande revista, na lista dos volumes mais vendidos no mês em todo o país. Um grande leitor, ciente de que existem produtos melhores, dá uma espécie de sermão cultural no pobre despretensioso, cuja intenção era somente ver para onde a literatura poderia levá-lo. Além disso, tal autoridade intelectual não se contentaria em ridicularizar um livro vazio. Ele iria indicar os clássicos ou os raros grandes contemporâneos (de acordo com a maioria dos afins da Literatura) – só para mostrar que ELE SABE!!! Todavia, meus caros, convenhamos que querer que um amador encare um Saramago de supetão é o mesmo que desejar que um telespectador de novelas assista “2001 – Uma odisséia no espaço”. O cara iria achar uma droga!!! Não iria tirar o mínimo de proveito da obra, além de se sentir desencorajado de provar qualquer outra coisa. Ele gostaria tanto do Paulo Coelho (tão detonado nos cursos de Letras)! E, devagar e sempre, poderia vir a experimentar coisas mais densas. Mas não! Aquilo não vale!

É o que a maioria dos professores de Literatura faz quando insiste que seus alunos de Ensino Médio absorvam os clássicos, ignorando completamente as sagas volumosas que os jovens gostam de curtir, como “Crepúsculo”, “Senhor dos anéis”, “Harry Potter”. Esses títulos são ruins. São péssimos! Incentivar que eles vivam de subcultura é compactuar com o desenvolvimento de um bando de idiotas. Porém, o problema é maior do que nós. O buraco é muito mais embaixo. As pessoas só consomem o que está mais a mão: sertanejo universitário, auto-ajuda, filmes com milhões de dólares investidos em efeitos especiais, etc.

Diante dos fatos, é fácil perceber que uma adolescente que vive de Fiuk não irá gostar de Machado de Assis; que um jovem viciado em NX Zero não irá gostar de Mário Quintana; que uma criança que passa o dia assistindo desenhos idiotas de hoje em dia, principalmente os orientais, terá dificuldade em gostar de qualquer coisa que não fale sobre esse universo.

SOBRETUDO, é o que eles, os que mexem os pauzinhos, desejam que continue acontecendo. E nós, meros fantoches, não podemos fazer exatamente nada. E, no meio disso tudo, os críticos são meros palhaços, tentando acordar as paredes.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Lavagem visual

A minha guilhotina
É esta rotina
Que insiste perversamente
Em decapitar qualquer sonho

A minha catapulta
É esta falta de culpa
Que agride o hipnotismo
Permitindo um vôo livre

A minha sabedoria
É saber que sofreria
A cada noite mal-dormida
Por eu ter que acordar...

...Num outro dia, mesma vida
Ser limitado, alucinado
Durante os dias, em minha vida
Cercado por este Inferno
Dissolvido num falso mar de rosas



MENDEL, G. M. Humano expresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2007.


As ideias expostas nesse poema são constantes em minha cabeça: a rotina, aprisionando o ser humano em um determinado programa e assassinando quase que completamente suas chances de viver de verdade; o correr contra a maré, tentando buscar uma existência mais consciente e menos viciada; a tristeza por saber que você acordará no outro dia, na melhor das hipóteses, e encontrará o mesmo cenário na sua frente.

Bem, digamos que já melhorei imensamente em relação a essa última parte. Atualmente acordo muito feliz. Pois, aos poucos, estou conseguindo o que sempre quis. Na realidade, na época eu estava apenas começando a caminhada - e eu sou imediatista. Além disso, a minha impaciência geralmente me corrói por dentro e me deixa muito desiludido. Mas também, ela me faz realizar grandes coisas, ousar mais, o que considero algo importantíssimo.

É mais ou menos isso, pessoal. Postei esse poema por achá-lo bem confeccionado. É uma espécie de arroz bem feito. Não é nada complexo, porém tem um sabor necessário ao nosso paladar - bom, ao menos para o meu.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Eu não sei

Eu nada sei sobre mim
Eu nada sei sobre o meu lugar
Eu nada sei sobre o meu destino
E eu não quero ser frágil!

Estou sujeito ao mundo
E o mundo não me transformou em sujeito
Estou sujeito ao fracasso
E o fracasso me deseja a vitória

Não sei se estou no caminho certo
Não sei se pertenço a um caminho
Eu sei que não quero ter um caminho
Pois desconheço o caminho do amor



MENDEL, G. M. Humano expresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2007.


Na primeira estrofe deste poema, revelo muito da minha postura durante a adolescência: a procura do EU. Naquele período, eu não sabia quem era nem o que queria, mas sabia que precisava ser forte.

Em seguida, adicionei versos fortes e verdadeiros, cujo sentido representa a condição de inúmeras pessoas: “Estou sujeito ao mundo e o mundo não me transformou em sujeito.” Ou seja, a vida nos impõe tanta correria, tantos rótulos (homem, estudante, filho, irmão mais novo), que não há espaço para pensar em quem somos deveras. Então, por perceber esse desconhecimento “estou sujeito ao fracasso”; porém, o fracasso (o sistema) me deseja a vitória – pois se eu ganhar ele ganha também, já que o êxito de alguns impulsiona esse modelo de funcionamento das coisas.

Na terceira e última estrofe, a conclusão: “Não sei se estou no caminho certo” / “Não sei se pertenço a um caminho” (tendo em vista a confusão existencial em que me encontrava) / “Eu sei que não quero ter um caminho” (POR QUÊ?) / “Pois desconheço o caminho do amor” (!!!)

Isto é: apesar de ser somente um jovem meio errante ainda, eu já tinha certeza de que o único caminho prestável é o do amor verdadeiro, aquele que realmente transforma.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Câncer de pele

Nada leva a nada
Tudo leva ao nada
Ilusão é a desilusão
de querer poder
Permissão é a proibição
de querer parar

Nada leva a nada
Tudo leva ao nada
Negação é a afirmação
de querer sumir
Educação é a domesticação
de querer mudar



MENDEL, G. M. Humano expresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2007.


O título do poema é “Câncer de pele”, pois tal moléstia aparece devido ao exagero em relação a algo bom. Ou seja, mesmo que tomar sol seja uma atitude excelente, o excesso de exposição ao sol causa câncer de pele, bem como o excesso de comida leva à obesidade, o excesso de exercício ocasiona lesões musculares e fadiga, etc.

“Nada leva a nada / Tudo leva ao nada” – Estamos sempre em busca do pote de ouro e vamos morrer procurando um tesouro inexistente, o que traz como consequências as loucuras da vida. Fora esses versos, criei conceitos poéticos*, que refletem - ao meu ver - alguns aspectos da existência dos seres humanos, através de paralelos entre os antônimos das palavras, cujo resultado me fez postar esse texto aqui.




* Considero-os como conceitos poéticos, tendo em vista que eles não têm nenhum compromisso com as conceituações dicionarizadas.