segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

A avenida, o centro e o caos

Movimentação
Instinto de grupo
Espírito de trupe
Aglomeração

O medo em seus olhos
A pressa em seus ossos
O ódio em seu sangue
Nenhum semelhante

Aglomeração
Espírito de trupe
Instinto de grupo
Movimentação



MENDEL, G. M.. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.


Eu gosto demais deste poema! Até hoje é um dos meus favoritos. Ele fala sobre a correria que acaba com os dias de praticamente todas as pessoas atualmente, assoladas por um turbilhão de informações, tarefas a cumprir e (des)encontros fulminantes.

Como não estou muito inspirado para comentar hoje - o faço apenas pela necessidade de atualizar o blog -, vou parar por aqui. Porque é preciso correr

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Números

Sete vidas
Sete dias
Sete horas sem você

Doze meses
Doze vezes
Doze tardes sem você

Cem momentos
Cem palavras
Contra o vento
Nessa estrada

Cem prazeres
Cem memórias
Cem mulheres
Cem histórias



MENDEL, G. M.. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.


Tenho muito orgulho do poema “Números”. Nele consegui desenvolver a poesia na qual acredito: simples, lúdica, breve, rica semanticamente e afinada na sintonia entre forma e conteúdo. Além disso, é um texto sem conclusão, o que é mais uma característica interessante, pois o leitor acaba de lê-lo sem saber se existe um “você”, se o eu-lírico é mulherengo ou solitário, se ele tem ou não histórias para contar. (E “Contra o vento / Nessa estrada”. Mas que vento? Em qual estrada? É tudo por conta do leitor.)

É como acontece em um poema do grande artista Ademir Antonio Bacca, de Bento Gonçalves-RS:

fim de noite

no
último
táxi
da
madrugada
não
tinha
carona
pra
minha
solidão


(BACCA, A. A.; GONÇALVES, C. (org.). Poesia do Brasil – Volume 8. Porto Alegre-RS: Grafite, 2008.)

Sugestão de interpretação: O poema é bem sugestivo. Por um lado, pode-se inferir que a solidão do eu-lírico era tão grande que não cabia em lugar algum. Por outro, é possível observar que o taxista deu carona para o poeta, mas não para a solidão, o que deixa a seguinte questão: será que ele voltou só ou não?

Sensacional (ponto final)

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Nina

Meu cachorro não entende
As diferenças sociais
Meu cachorro não entende
As diferenças raciais

Meu cachorro não entende
Que eu estudo e que eu trabalho
Meu cachorro me atende
E nunca diz que eu só atrapalho

Meu cachorro me perdoa
Meu cachorro não caçoa
Meu cachorro nunca insulta
Meu cachorro nunca julga

Que ser humano é o meu cachorro!
Que ser profano é o meu povo!
Meu cachorro quer ser do bem
E o meu povo quer se dar bem

Meu cachorro não entende
Que o ser humano é negligente

Meu cachorro é quem me cura
Quando a vida aqui é dura



MENDEL, G. M.. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.


A natureza é essencialmente poética. Boa parte das pessoas ficam sensibilizadas diante da fauna e da flora com as quais nós fomos presenteados, o que cumpre, sem sombra de dúvidas, com a principal função social da poesia: a sensibilização do ser humano. E é poesia pura, ao estilo de Quintana, Pessoa, Neruda, Drummond, Vinícius, não daquela forçada que muitos costumam praticar nas últimas décadas. E ela sabe disso. O planeta inteiro sabe disso. Deus sabe disso. O Universo sabe disso. Pois, a natureza, o planeta, Deus, o Universo, todos estão umbilicalmente ligados, funcionando na mesma frequência poética.

***

Este é um poema estruturalmente bastante simples e, até certo ponto, idiota. Porém, eu realmente não pretendi moldá-lo de forma complicada, pois queria que ele soasse como a Nina, a minha cadelinha pequinês: pura, inocente, humilde, companheira, a quem fiz uma verdadeira homenagem, de modo a demonstrar que os "animais", especialmente os cachorros, são os verdadeiros "seres humanos", levando em consideração o que foi exposto no referido texto.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Hierarquia... é porcaria!

Classe baixa... sempre abaixo;
Classe média... sempre um tédio;
Classe alta... é um assalto;
Hierarquia... é porcaria!

Diz uma lenda...
Que somos todos iguais.
Mas só se vê submissão...
Só se vê subordinação...

Pois sai sede por poder
Grita mais alto do que sua consciência;
E você quer, mais do que nunca,
Ser um pronome de tratamento.



MENDEL, G. M.. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.


“Hierarquia... é porcaria!” é o primeiro poema da minha segunda obra, “Humano Impresso”, que postarei e comentarei aqui no blog. É um texto que fala a respeito da inexplicável desigualdade social que condiciona a existência das pessoas e soca a dignidade do ser humano.

***

Parece um filme de terror: desde o momento em que um óvulo é fecundado por um espermatozóide, o embrião resultante desta combinação já é fadado a ser alguém ou ninguém, o príncipe ou um plebeu, Vossa Excelência ou um invisível, o intocável ou um que serve de tapete.

***

Você pode nascer sob a perspectiva de Moisés, o príncipe do Egito, assim como pode nascer sob a perspectiva de Moisés, o escravo hebreu. Tudo é uma questão de sorte, onde cada candidato à vida deve torcer para que sua genética seja banhada a ouro.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Moscas & Aranhas

Os homens criam a teia
Os homens são pegos pela própria teia
Então, arrancam pedaços de si mesmos
Acreditando serem moscas tontas

As aranhas são perigosas
As moscas... podem voar
Quem não voa fica coberto de teias
Quem fica coberto de teias... devora quem pode voar


MENDEL, Guilherme Mossini. Humano expresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2007.


O poema "Moscas & Aranhas" é o último que postarei da minha primeira obra, "Humano Expresso". Esse é um dos meus textos preferidos até hoje, pois considero-o bastante simbólico, redondinho e verdadeiro. É um dos poucos escritos que salva o "Humano Expresso". É um dos poucos escritos que me salva como poeta.

***

Não sei se sou um bom escritor. Prefiro acreditar que sim. (Em verdade, apostei que sim, já que publiquei três obras e participei de outras duas.) Quiçá eu seja um autor a quem se deva dar atenção. Contudo, o abandono está fazendo com que eu me mate aos poucos, contendo a minha vontade de escrever literatura, pois poesia não vende; eu não vendo. Estou perdendo os trocos que havia poupado durante minhas modestas experiências com "ganhar dinheiro" e, como consequência, sinto que estou perdendo tempo.

***

Tenho pena dos meus poemas. Bem que eles poderiam ter surgido para aqueles atores de novela que publicam poesia. Provavelmente seriam reconhecidos. Mas pode ser que se tornassem textos diferentes, embebidos em garbo e atenção, elogiando a paradisíaca vida que lhes seria mostrada detrás dos óculos da fama.