terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Nina

Meu cachorro não entende
As diferenças sociais
Meu cachorro não entende
As diferenças raciais

Meu cachorro não entende
Que eu estudo e que eu trabalho
Meu cachorro me atende
E nunca diz que eu só atrapalho

Meu cachorro me perdoa
Meu cachorro não caçoa
Meu cachorro nunca insulta
Meu cachorro nunca julga

Que ser humano é o meu cachorro!
Que ser profano é o meu povo!
Meu cachorro quer ser do bem
E o meu povo quer se dar bem

Meu cachorro não entende
Que o ser humano é negligente

Meu cachorro é quem me cura
Quando a vida aqui é dura



MENDEL, G. M.. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.


A natureza é essencialmente poética. Boa parte das pessoas ficam sensibilizadas diante da fauna e da flora com as quais nós fomos presenteados, o que cumpre, sem sombra de dúvidas, com a principal função social da poesia: a sensibilização do ser humano. E é poesia pura, ao estilo de Quintana, Pessoa, Neruda, Drummond, Vinícius, não daquela forçada que muitos costumam praticar nas últimas décadas. E ela sabe disso. O planeta inteiro sabe disso. Deus sabe disso. O Universo sabe disso. Pois, a natureza, o planeta, Deus, o Universo, todos estão umbilicalmente ligados, funcionando na mesma frequência poética.

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Este é um poema estruturalmente bastante simples e, até certo ponto, idiota. Porém, eu realmente não pretendi moldá-lo de forma complicada, pois queria que ele soasse como a Nina, a minha cadelinha pequinês: pura, inocente, humilde, companheira, a quem fiz uma verdadeira homenagem, de modo a demonstrar que os "animais", especialmente os cachorros, são os verdadeiros "seres humanos", levando em consideração o que foi exposto no referido texto.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Hierarquia... é porcaria!

Classe baixa... sempre abaixo;
Classe média... sempre um tédio;
Classe alta... é um assalto;
Hierarquia... é porcaria!

Diz uma lenda...
Que somos todos iguais.
Mas só se vê submissão...
Só se vê subordinação...

Pois sai sede por poder
Grita mais alto do que sua consciência;
E você quer, mais do que nunca,
Ser um pronome de tratamento.



MENDEL, G. M.. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.


“Hierarquia... é porcaria!” é o primeiro poema da minha segunda obra, “Humano Impresso”, que postarei e comentarei aqui no blog. É um texto que fala a respeito da inexplicável desigualdade social que condiciona a existência das pessoas e soca a dignidade do ser humano.

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Parece um filme de terror: desde o momento em que um óvulo é fecundado por um espermatozóide, o embrião resultante desta combinação já é fadado a ser alguém ou ninguém, o príncipe ou um plebeu, Vossa Excelência ou um invisível, o intocável ou um que serve de tapete.

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Você pode nascer sob a perspectiva de Moisés, o príncipe do Egito, assim como pode nascer sob a perspectiva de Moisés, o escravo hebreu. Tudo é uma questão de sorte, onde cada candidato à vida deve torcer para que sua genética seja banhada a ouro.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Moscas & Aranhas

Os homens criam a teia
Os homens são pegos pela própria teia
Então, arrancam pedaços de si mesmos
Acreditando serem moscas tontas

As aranhas são perigosas
As moscas... podem voar
Quem não voa fica coberto de teias
Quem fica coberto de teias... devora quem pode voar


MENDEL, Guilherme Mossini. Humano expresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2007.


O poema "Moscas & Aranhas" é o último que postarei da minha primeira obra, "Humano Expresso". Esse é um dos meus textos preferidos até hoje, pois considero-o bastante simbólico, redondinho e verdadeiro. É um dos poucos escritos que salva o "Humano Expresso". É um dos poucos escritos que me salva como poeta.

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Não sei se sou um bom escritor. Prefiro acreditar que sim. (Em verdade, apostei que sim, já que publiquei três obras e participei de outras duas.) Quiçá eu seja um autor a quem se deva dar atenção. Contudo, o abandono está fazendo com que eu me mate aos poucos, contendo a minha vontade de escrever literatura, pois poesia não vende; eu não vendo. Estou perdendo os trocos que havia poupado durante minhas modestas experiências com "ganhar dinheiro" e, como consequência, sinto que estou perdendo tempo.

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Tenho pena dos meus poemas. Bem que eles poderiam ter surgido para aqueles atores de novela que publicam poesia. Provavelmente seriam reconhecidos. Mas pode ser que se tornassem textos diferentes, embebidos em garbo e atenção, elogiando a paradisíaca vida que lhes seria mostrada detrás dos óculos da fama.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Escrevendo poemas

Palavras esquisitas
Palavras esquecidas

Pensamentos benditos
Pensamentos malditos

Ideias controversas
Ideias subversivas

Amor inabalável
Amor inalcançável

Ódio indesejável
Ódio incontestável

Tantas coisas envolvidas
Tantas coisas distorcidas
Para um texto construir
E o contexto confundir



MENDEL, G. M.. Humano expresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2007.


"Escrevendo poemas", como o próprio nome denuncia, é basicamente um texto que fala a respeito da arte de escrever poesia.

Então, aproveito a deixa para explicar o motivo que me levou a escrever poesia:

A poesia, para mim, é basicamente uma breve expressão de pensamentos e sentimentos. E, por ser breve, na maioria das vezes o poeta tem a felicidade de conseguir conceber um poema quando a ideia está fresquinha na cabeça e/ou os sentimentos estão fazendo o seu sangue ferver. O que não acontece com a prosa (pelo menos com a minha). Pois, até o escritor terminar de escrever tudo o que gostaria dentro dos moldes de determinado gênero prosaico (cortando a imensidão de coisas que deve cortar, ajeitando tudo o que deve ajeitar) , as ideias já estão podres e os sentimentos já estão congelados dentro d'alma.

É isso...

Até!

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Poesia de gaveta

Aprisionados aos papéis
Os poemas são fiéis
À sua fria condição
De esperar publicação



MENDEL, G. M.. Humano expresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2007.


Acreditem se quiserem, dentre tudo o que publiquei até hoje, este é um dos meus poemas prediletos! E, acreditem se quiserem, é o único que eu sei de cor.

Isso porque é um poema extremamente simples, extremamente redondinho e extremamente verdadeiro, que não revela apenas a situação dos poetas iniciantes ou dos poetas tímidos, mas da poesia em si nos dias de hoje, relegada à marginalidade – não da Literatura, e sim das editoras, das livrarias, do bolso dos leitores. Sim! As pessoas lêem poesia. Só que o fazem em blogs, em jornais, em folhetos colocados por aí (em murais, muros e paredes, nos ônibus e nos metrôs). No entanto, triste do poeta que quer lançar livros, tornando-se um polivalente mendigo literário, cujas atividades incluem: escrever, revisar, fomentar, divulgar e vender as suas próprias obras. Triste do escritor que escreve o texto-martelinho: pequeno, mesmo assim difícil de engolir; que faz arder a garganta, que aquece a alma e que, em seguida, perturba.