domingo, 15 de setembro de 2013

Lágrimas de Deus

Perdi-me num lugar em branco.
Não havia nada lá:
Nem saídas, nem entradas;
Nem ruínas, nem estradas.

Eu corria sem sair do lugar,
E adormecia sem ver o luar.
O tempo não passava,
Nem eu envelhecia.

Então, um dia,
Começou a chover.
E, para meu espanto,
Eram lágrimas de Deus.

Quando tudo acabou,
Ele olhou para mim,
E, perturbado, falou:
"Filho, estás fora do Universo!?"


(BACCA, A. A.; GONÇALVES, C.. Poesia do Brasil. Vol. 8. Bento Gonçalves-RS: Grafite, 2008. p. 192)

Escrevi este poema há muitos anos, como é possível observar pelos erros de pontuação. Foi um dos meus primeiros textos, quando eu estava cursando o Ensino Médio. Ele não entrou para o primeiro livro, mas, algum tempo depois, reconheci a qualidade do texto (para mim) e fiz alguns ajustes, vindo a publicá-lo na já referida antologia.

Não há um significado específico para esse poema. É mais um dos textos que simplesmente me surgiram. Então, antes de tentar explicar o que eu quis dizer com ele, prefiro que os leitores o interpretem da sua maneira (o que é muito mais produtivo, na minha opinião).

***

Enfim, acabam por aqui os poemas da antologia. Desse modo, a partir da próxima postagem, publicarei alguns textos de "Sobretudo", minha última obra publicada até hoje. Em breve, mandarei para a editora meu mais novo livro, provavelmente o menos pior da minha carreira. Espero que, quem apoiá-lo, não se aborreça com a leitura.

Tchau!
Obrigado pela atenção e pela leitura!

sábado, 7 de setembro de 2013

Sobre o silêncio e alguma solidão

Exilado e preso
É como estou agora.
Mas esse já não é
Mais um poema triste.

Tenho um livro na mão
E dois voando...
Eles são meus amigos -
E não sustentam a solidão.

Esses livros, os três,
São cárceres benditos.
E suas páginas...
São carcereiros de ideias.

***

Isso, então, é a razão do livro:
- Aprisionar ideias fujonas,
Ideias livres e contra a lei.

Por qual motivo? Eu sei!
- Resgatar no ser humano
O que está morto dentro dele.


(BACCA, A. A.; GONÇALVES, C.. Poesia do Brasil. Vol. 8. Bento Gonçalves-RS: Grafite, 2008. p. 191)

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Não confunda!

Leis são limites,
Mas limites não são leis!

Reis são governantes,
Mas governantes não são reis!

Seis são seus amantes,
Mas seus amantes não são seis!

***

Leis nunca serão governantes,
E governantes nunca serão leis!

Reis nunca serão seus limites,
E seus amantes nunca serão reis!


(BACCA, A. A.; GONÇALVES, C.. Poesia do Brasil. Vol. 8. Bento Gonçalves-RS: Grafite, 2008. p. 190)


O poema "Não confunda!" é bastante agradável, tanto a mim quanto ao público - pelo menos é o que eu acho. É agradável a mim porque me ocorreu naturalmente, embora eu tenha lapidado a última parte. E é agradável ao público porque tem rima - e, ainda hoje, a maioria das pessoas relaciona poesia à rima.

Além disso, não é apenas mais um poeminha idiota e rimado; é sim, um convite à emancipação do leitor sob diversos aspectos - o que, tematicamente, considero muito bom.

Por hoje é só. Até a próxima, pessoal!

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Itaporaí

Itaporaí era uma cidadezinha do interior.

Mas só era;
Agora já não é mais!
E se foi Itaporaí...

Suas raízes,
Sua cultura
E seu povo
Não resistiram aos
Tentáculos perversos
Da tal globalização.
E a vida moderninha
Devorou Itaporaí.

Itaporaí seu povo;
Não mais sua cultura.

Pois, as pessoas
Estão por aí...
Em cidades adequadas,
Que têm suporte técnico.


(BACCA, A. A.; GONÇALVES, C.. Poesia do Brasil. Vol. 8. Bento Gonçalves-RS: Grafite, 2008. p. 188)

Olá!

A partir de agora irei postar os poemas que publiquei na antologia "Poesia do Brasil - Volume 8", realizada em 2008, em referência ao XVI Congresso Brasileiro de Poesia, ocorrido em Bento Gonçalves. No trabalho supracitado, inseri cinco textos previamente selecionados para integrar o livro "Sobretudo". Este, "Itaporaí", escrevi pensando no papel das pequenas cidades nas últimas décadas, que, ao invés de crescerem e se desenvolverem, estão, no máximo, mantendo-se na mesma proporção, uma vez que seus habitantes procuram municípios com mais estrutura. É assim que esses lugarejos "insignificantes" (entre aspas, já que não é a minha opinião) permanecem sem médicos, professores, entre outras funções essenciais.

LEVADO - Poema Solto 14 (23/11/2007)

O que leva uma pessoa
A achar que sabe?

O que leva uma pessoa
A achar que pode?

O que leva uma pessoa?

Eu não sei...

Mas todos são levados a...


(MENDEL, G. M.. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008. p. 71)


Voltando a comentar...

Sempre achei este poema prestável. Ele é bem simples, mas muito significativo, pois retrata fielmente o comportamento das pessoas nos últimos tempos.

Pronto.