segunda-feira, 23 de maio de 2011

Falta de tempo ou de interesse?

Diariamente, muitas pessoas falam que gostam de ler (e até mesmo que gostariam de ler determinada obra em especial), mas que não têm tempo para tal atividade ao longo de seus dias. No entanto, seria essa mais uma consequência da nossa cada vez mais atribulada rotina ou apenas mais uma desculpa para escapar da leitura?

Esses indivíduos alegam que acordam cedo, trabalham durante o dia inteiro, retornam às suas casas apenas à noite, fatigados, estressados, e têm mais uma boa quantidade de tarefas pendentes a resolver. Porém, duvido que eles não consigam contar com pelo menos dez ou quinze minutos diários para dedicar à leitura de um livro - principalmente no quarto, antes de se deitarem.

Por isso, acredito que a falta de tempo é mais uma justificativa quase convincente para esconder a preguiça, cujo poder oprime os seres humanos desde sempre, fadando-os à lei do menor esforço. E, desse modo, eles fogem do exercício, da leitura, do alongamento, do passeio com o cachorro, entre outras necessidades que exigem vontade para serem realizadas.

domingo, 8 de maio de 2011

Dor de cabeça

Dor repentina
Dor passageira
Dor que alucina
Dor costumeira

Resultado do acúmulo
Resultado do exagero
Resultado do infortúnio
Resultado de um anúncio

A denúncia da doença
A pronúncia da sentença
O prenúncio de uma queda
O prescrito de uma era

Ela é sempre um alerta
P’ra esse demente estilo de vida
Ela é sempre o produto
Dessa fervente alma esvaída

[...]

Muitas coisas podem ser ditas
No verso de qualquer lugar
Dizer aquilo que ninguém quer saber
Mostrar aquilo que todos querem esconder


MENDEL, G. M. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.


"Dor de cabeça" é um dos meus poemas mais significativos, tendo em vista que sempre tive intensas dores de cabeça, cuja força e frequência normalmente me transmitem medo e preocupação.

Levando em conta o panorama acima descrito, procuro transcrever no texto tudo o que penso e sinto em relação a esse transtorno - o que fiz com relativa competência (acredito eu), principalmente por ter conhecimento de causa.

Por hoje é só.
Até a próxima!

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Sociedade sem saciedade

Estou cercado por arranha-céus
Reluzidos por um único farol
E não posso ver o céu
Reduzido por um vulto de sol

Estou andando parado em casa
Não gosto mais de sair
Só penso em construir asas
Que me façam voar por aí

Estou com medo dessas ruas
Há muita gente por lá
As vitrines são todas suas
O dinheiro poderá me comprar

Eu sei que existe um motivo
Que devora o nosso juízo
Não posso acabar com isso
Não posso desistir desse vício

Por isso eu quero remédios
Que me tornem alguém normal
Porque isso é realmente sério
Eu quero ser especial

Por isso eu quero mistérios
Que eu possa desvendar
Porque esse troço é venéreo
E eu quero ser comercial



MENDEL, G. M. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.


Para comentar sobre esse poema, citarei um trecho de um texto onde o genial escritor José Cândido de Carvalho comenta a respeito das mudanças ocorridas no mundo em um período compreendido entre 25 anos:


[...] Publiquei o primeiro livro em 1939 e o segundo precisamente vinte e cinco anos depois. Entre Olha para o céu, Frederico! e O coronel e o lobisomem o mundo mudou de roupa e de penteado. Apareceu o imposto de renda, apareceu Adolf Hitler e o enfarte apareceu. Veio a bomba atômica, veio o transplante. E a Lua deixou de ser dos namorados. Sobrevivi a todas essas catástrofes. E agora, não tendo mais o que inventar, inventaram a tal da poluição, que é doença própria de máquinas e parafusos. Que mata os verdes da terra e o azul do céu. Esse tempo não foi feito para mim. Um dia não vai haver mais azul, não vai haver mais pássaros e rosas. Vão trocar o sabiá pelo computador. Estou certo que esse monstro, feito de mil astúcias e mil ferrinhos, não leva em consideração o canto do galo nem o brotar das madrugadas. Um mundo assim, primo, não está mais por conta de Deus. Já está agindo por conta própria.

(Niterói, setembro de 1970)


CARVALHO, J. C. de. Porque Lulu Bergantim não atravessou o Rubicon. Rio de Janeiro-RJ: Rocco, 2003. p. 08.


***

E por que eu adicionei essas magníficas palavras expostas acima como comentários sobre o meu texto? Porque José Cândido de Carvalho, em 1970 (!!!), previu os tristes fatos que critiquei por meio do poema.

Por hoje é só.
Até a próxima!

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Sem dó e sem dor

Você dá conta?
Você dá conta de mim?

Você dá conta...
Desta história sem fim?

Você não sabe...
Que o amor é assim?

Você não sente...
Que a sua flor é jasmim?

Você não vê...
Que a sua cor é marfim?

Você não sabe, não sente e não vê
Que eu só sei te querer (sem poder)!

Não sente amor, não sabe a cor...
Só vê flores...;
Sem dó e sem dor!


MENDEL, G. M.. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.


* O poema "Sem dó e sem dor" até que é bonzinho: é bem construído, além de possur uma musicalidade interessante e alguns sentidos relativamente válidos.

* Ele também surgiu como letra de música (o que favoreceu a musicalidade) e acabou virando poema.

* O texto fala, basicamente, sobre romances volúveis, irresistíveis (no sentido de não resistirem ao mínimo estresse).

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Poesia: por que não?

Normalmente, as pessoas com quem eu falo afirmam que não gostam de poesia. Porém, não é que elas simplesmente não gostem de poesia. Em verdade, esses que torcem o nariz para tal gênero sentem medo dele, pois não o entendem.


A poesia tem menos recursos linguísticos (pistas) que facilitem a interpretação do que qualquer texto em prosa. Ou seja, além de tradicionalmente ser elaborada com menos palavras, as que são escolhidas são posicionadas de modo a serem transformadas, a se tornarem multifacetadas.


Assim, os poemas estão para seus possíveis leitores como Gulliver para os lilliputianos. E, por conta disso, eles têm em mente que é preciso ser um Hércules para derrotar os titãs, que é preciso ser um Édipo para decifrar o enigma da esfinge, que apenas uns poucos escolhidos têm os poderes necessários para tirar bom proveito da poesia.