O velho Joaquim sempre foi conhecido por seu temperamento difícil e seu amor incondicional por seu Opala 1974, um clássico brasileiro que ele cuidava com mais zelo do que qualquer outra coisa na vida. Sua neta, Luísa, uma jovem rebelde e desrespeitosa, sempre desejou o carro, mas Joaquim nunca permitiu que ela sequer tocasse no volante.
Quando Joaquim faleceu, Luísa finalmente herdou o tão cobiçado Opala. A decisão foi tomada por Carlos Alberto, genro do idoso, cujo respeito pelo sogro sempre fora inexistente. Ignorando completamente o apreço que o velho sentia pelo veículo, optou, sem pestanejar, por agradar à sua incontrolável e superestimada filha. Carlos Alberto era o infeliz proprietário de Wanderleia, rebento único de Joaquim e de sua eternamente amada e saudosa Zilda.
Sendo assim, sem qualquer respeito pela memória do avô, a herdeira do automotor começou a usar o carro de maneira irresponsável. Dirigia bêbada, usava drogas, derrubava bebida e comida no interior do veículo, e até mesmo usava o carro para encontros amorosos – incluindo aqueles mais quentes do que o motor do velho veículo. O Opala, que antes era um símbolo de orgulho e cuidado, agora estava se deteriorando rapidamente.
O espírito de Joaquim, inquieto e furioso, não conseguia descansar em paz. Ele perambulava ao redor da família, emanando uma aura de revolta e descontentamento. A cada nova transgressão de Luísa, a presença do avô se tornava mais forte e perturbadora. Os três até passaram a sentir algumas sensações estranhas, contudo não sabiam dizer do que se tratava. Inclusive, Wanderleia pediu que um padre viesse benzer a casa, o que acalmou a situação por um curto período.
Até que, em uma noite diabólica, após uma festa regada a álcool, drogas e inenarrável pegação, Luísa decidiu dirigir o Opala de volta para casa. O espírito de Joaquim, determinado a pôr fim à farra, tomou o controle do carro. Em uma curva perigosa, o Opala perdeu o controle e se chocou violentamente contra uma árvore. O acidente foi fatal para Luísa, interrompendo uma vida de aventuras, e o carro teve perda total, interrompendo uma existência de torturas.
Carlos Alberto e Wanderleia lamentaram profundamente o destino da sua amada e meiga única descendente. O pai, sobretudo, lastimou ter deixado Luísa adonar-se daquele ferro-velho.
No entanto, o espírito de Joaquim finalmente encontrou paz. Agora, ele podia vagar alegremente, dirigindo seu amado Opala em uma dimensão onde ninguém mais poderia perturbá-lo. O carro, restaurado à sua antiga glória, era novamente um símbolo de orgulho e cuidado, porém, desta vez, apenas para o espírito do velho Joaquim.
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