Canção fúnebre
Em todas as sextas-feiras à noite, meu vizinho de cima convidava seus amigos desmiolados para uma festinha regada a muita cerveja barata, música de baixíssima qualidade e conversa enlouquecedora. E, além da falta de respeito com o restante dos moradores do prédio, fato que já seria o suficiente para reprovar esse comportamento, o que agrava a minha situação é que eu me levanto bem cedo aos sábados para trabalhar.
Pelo jeito, não seria diferente em uma sexta-feira 13...
Eu tinha tido uma semana terrível! Estava completamente acabado! Assim que comecei a sentir sono, olhei para o meu relógio de pulso e observei que já era quase meia-noite. Por um milagre, o prédio estava no mais tenebroso silêncio. Por isso, satisfeitíssimo, dirigi-me ao meu quarto. Tentaria ter uma inigualável noite de sono!
De repente, no momento em que vesti as calças do meu pijama, passei a ouvir uma música em volume ensurdecedor vindo do apartamento logo acima. Contudo, não era do mesmo estilo ridículo de sempre! O som que eu estava ouvindo era o da minha canção favorita, do bom e velho rock and roll.
Porém, desta vez, não fiquei contente ao escutá-la, pois, bom ou ruim, o barulho não me deixaria dormir. Então, para satisfazer a minha curiosidade, subi as escadas em direção àquele apartamento. Diante da porta, dei algumas batidinhas, para ver se alguém me atendia. Passados alguns minutos sem resposta, tentei virar a maçaneta, a qual se abriu com extrema facilidade. Aturdido, decidi entrar no local, embora alimentasse o receio pelo comportamento do meu colega de condomínio, cujas atitudes normalmente lembravam as de um lobisomem enfurecido.
Após algum tempo de investigação, não encontrei ninguém naquele lar, odioso lar. E, para a minha inteira surpresa, o aparelho de som estava até mesmo fora da tomada (!!!). Ao fechar a porta, a música sumiu misteriosamente…
Voltei ao meu apartamento e, finalmente, dormi.
No dia seguinte, quando cheguei à portaria do edifício, encontrei-me com o síndico. Questionei-lhe sobre o barulho da noite anterior. Para a minha estupefação, ele não tinha ouvido nada.
Chegando ao meu local de trabalho, observei um exemplar do jornal do final de semana em cima do balcão da recepção. Peguei-o, folheei suas enormes páginas com certa dificuldade e, numa pequena notícia, li: meu vizinho havia sofrido um acidente de carro fatal na noite anterior. E, enquanto agonizava (e, posteriormente, jazia em seu carro), eu ouvia aquela música em seu apartamento.
Apesar do espanto, pensei, sorrindo para mim mesmo: valeu a pena ter ido àquela consulta com a bruxa!
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