domingo, 24 de julho de 2016

Um lixo (13/07/2012)

O lixeiro não se acha
Um lixo.
Ele acha que o lixo
Nunca fica limpo,
Nem o reciclável;
Uma vez lixo,
Sempre lixo.

***

O lixeiro toma banho
A cada meia hora,
Pois teme que o cheiro do lixo
Lhe tire a dignidade
E lhe acostume
Ao asco social.



(MENDEL, G. M.. Entretanto. Erechim-RS: AllPrint Varella, 2013.)

sábado, 9 de julho de 2016

O nó da garganta (02/07/2012)

O céu derrama por mim
As lágrimas que já não posso.
Nesta sina zombeteira,
Tive bons (poucos) momentos –
Mas as pancadas fixaram em mim
O gosto amargo de dor-raiva-cansaço.

Pois bem!
Enquanto o céu está aos prantos,
Caminho sem saber o motivo,
Sonhando com paz e invisibilidade,
Rumo ao incerto da indiferença.



(MENDEL, G. M.. Entretanto. Erechim-RS: AllPrint Varella, 2013.)



Em um período que estou relativamente bem, é meio estranho postar um poema tão triste. Mas, às vezes, a tristeza se apodera de mim e me faz escrever coisas desse tipo. Não hoje!

terça-feira, 21 de junho de 2016

Minúsculas impressões (18/05/2012)

A pobreza tem um cheiro amargo
A miséria tem cheiro de esgoto
A pobreza tem gosto de pão puro
A miséria tem gosto de pão podre
O pobre se sente bem pouco
O miserável se sente um nada
O pobre se acha um miserável
O miserável só procura o que comer



(MENDEL, G. M.. Entretanto. Erechim-RS: AllPrint Varella, 2013.)

domingo, 5 de junho de 2016

À estúpida menininha (25/11/2011)

Menininha do umbigo de ouro,
Onde orbita este mundo criado
Para servir de paisagem
Às suas mais incríveis aventuras,
Os figurantes estão roubando a sua cena
Na melodramática novela da vida.
Então, você não quer mais brincar...

Você,
Que nunca gostou
De se esconder.
Você,
Que adorava passar
Tranca nos outros.
Você,
Que sempre endeusou
Seus singelos brinquedos,
Apenas por serem os seus.
Você,
Que, por fim, machucou
Seus pobres amiguinhos,
Que vinham lhe entregar
Um abraço de despedida.

Pois eles,
Eles são figurantes.
Mas não são burros...
E não suportam a estupidez
De ver somente uma menininha
Querendo todos os brinquedos do mundo,
Só para concretizar a sua eterna infância.



(MENDEL, Guilherme M.. Entretanto. Erechim-RS: AllPrint Varella, 2013.)



Este poema é dedicado a uma colega que conheci em um dos cursos que fiz. Essa pessoa foi muito estúpida comigo e, impulsivamente, escrevi esse texto.

domingo, 8 de maio de 2016

Provar, experimentar, degustar e desgostar (23/11/2011)

Eu não tenho sal,
Por isso eu como açúcar.
Eu sou tão doce,
Sou tão enjoativo.
Os outros são tão azedos –
Amargura da existência.
Eu provo muitos sabores
Que me fazem vomitar.
Mas provar é preciso,
Para que eu possa existir
Neste mundo de dissabores.



(MENDEL, G. M.. Entretanto. Erechim-RS: AllPrint Varella, 2013.)