segunda-feira, 28 de maio de 2012

DEVANEIO E INDEPENDÊNCIA - Poema Solto 01 (17/07/2007)

Apaixonei-me pelas coisas
Porque as coisas não decepcionam -
A menos que elas dependam de seres;
E os seres decepcionam de vez em quando.

Fui levando o isolamento a sério,
Mas não pude mais fazer mistério,
Pois os seres me solicitaram,
E o paralelo, então, sequestraram.

Dessa forma, cheguei à conclusão
De que tudo e todos dependem de mim - 
Bom, desde que eu abra os olhos,
Porque a vida infelizmente é assim:

Necessitamos dos outros,
E os outros necessitam de nós.
Necessitamos das coisas,
E as coisas necessitam de nós.

E isso tudo é uma simples questão de sobrevivência;
Porque só existe aquilo em que se pode tocar,
Com que se pode conviver e se decepcionar - 
Porém, tanto faz, pois nada disso tem relevância.


(MENDEL, G. M.. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.)

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

POESIA COTIDIANA 03 - REALIDADE

[...]
(pi-pi-pi-pi-pi...)
(...pi-pi-pi-pi-pi...)

{5 minutos depois}
- Tá ouvindo?
- Ouvindo o quê?
- Um alarme! De carro!
- Bah! Dexa eu vê se não é o meu...!

{10 minutos depois}
- E aí?
- Era. Só disparô!
- Menos mal...
- Não tava aberto, nem tava faltando nada...

{Numa outra quadra}
- Bah, cara! Que droga esses vidro escuro!
- É! Ainda bem que a gente foi rápido!
[...]


MENDEL, G. M.. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.


"Realidade", o último poema da série "Poesia Cotidiana", fala sobre dois rapazes que tentam roubar um automóvel. Sem perceber que o veículo possui alarme - em virtude da escuridão dos vidros do mesmo -, a tentativa de furto é frustrada, uma vez que esse alarme começa a disparar logo que os dois tentam abrir o carro, fazendo com que eles corram para a outra quadra. Enquanto isso, o proprietário do automóvel, ao ouvir um som de alarme semelhante ao do seu veículo, vai até onde este está estacionado, verifica o carro e pensa que o sistema de proteção disparou sozinho.

***

Bem idiotinha o texto, não é mesmo? Isso é mais uma consequência de decisões erradas que tomei na vida. Lamento muito que eu tenha que colher os frutos dessas decisões para o resto da minha existência.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

POESIA COTIDIANA 02 - RESULTADO

[...]

{6 horas e 25 minutos}

(tic-tac, tic-tac, tic-tac...)

* sono conturbado *


{6 horas e 30 minutos}

(trrriiinnn!!! / pãc)

- Ah, não!

* rotina *


{20 horas e 30 minutos}

* assistir TV *

passa, passa, passa, passa, passa...


{24 horas e 30 minutos}

* cansaço / insônia à remédio para dormir *

__________

[...]


MENDEL, G. M.. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.


Segundo poema dos três textos da “Poesia Cotidiana”, “Resultado” mostra as consquências causadas pela atribulada rotina que o ser humano comum tem de enfrentar diariamente. Acorda, normalmente, muito cedo, sem ter dormido o suficiente para recompor as suas energias. Em seguida, precisa dar um pulo da cama e se preparar às pressas para não chegar atrasado ao trabalho – e, mesmo sem condições fisiológicas, emocionais e/ou psicológicas, deve passar o dia correndo, dando conta de uma boa porção de tarefas. Retorna para casa apenas no início da noite e tenta descansar e se distrair assistindo à televisão, sem encontrar um programa que o faça se sentir melhor. Por fim, tenta dormir, perturbado por um contraste de cansaço e insônia. Por isso, ingere um sonífero, procurando, através de medicamentos, galgar condições de levar a sua vida adiante. É mais ou menos isso.

*** Lá vai um pouco de intertextualidade! Abaixo está uma composição da banda paulista Inocentes, a qual combina perfeitamente com o poema postado acima:


INOCENTES – Rotina (1986)

Acorda cedo para ir trabalhar
O relógio de ponto a lhe observar
No lar esposa e filhos a lhe esperar
Sua cabeça dói, um dia vai estourar, com essa

Rotina (Rotina!) (x4)

Sua cabeça dói, não consegue pensar
As quatro paredes a lhe massacrar
Daria tudo pra ver o que acontece lá fora
Mesmo sabendo que não iria suportar essa

Rotina (Rotina!) (x4)

Até quando ele vai aguentar?
Até quando ele vai aguentar? (Rotina)

No lar sua esposa lhe serve o jantar
Seus filhos brincam na sala de estar
Levanta da poltrona e liga a TV
Chegou a hora do programa começar

Rotina (Rotina!) (x4)

O homem da TV lhe diz o que fazer
Lhe diz do que gostar, lhe diz como viver
Está chegando a hora de se desligar
A sua esposa lhe convida para o prazer

Rotina (Rotina!) (x4)

Até quando ele vai aguentar?

Até quando ele vai aguentar? (Rotina)

Rotina (Rotina!) (x4)

Até quando ele vai aguentar?
Até quando ele vai aguentar?


Obs.: Em 1999, os Titãs gravaram uma nova versão dessa música, em um álbum intitulado “As dez mais”, constituído somente por versões de composições de outros artistas.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

POESIA COTIDIANA 01 – FIOS DE COBRE

[...]

(tu-tu-tu-tu-tu...)

- Droga! Deve tá na internet!

{5 minutos depois}

(tu-tu-tu-tu-tu...)

- Ah! Esperei poco!

{30 minutos depois}

(tuuu... tuuu...)

- Alô!?

- Aê! Consegui falá contigo!

[...]


MENDEL, G. M.. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.


Os três poemas que publiquei na obra "Humano Impresso" sob o título de "Poesia Cotidiana" resultaram de uma experiência frustrada. Eu quis retratar simples fatos cotidianos apropriando-me de sinais gráficos e figuras de linguagem, de modo a dar a esses acontecimentos uma cara de poesia. No entanto, após a publicação do livro, notei que as pessoas não entendem e/ou não gostam desses poemas. E eu, acertadamente, não persisti no erro de tentar criar mais textos desse feitio. Mesmo assim, irei postá-los aqui.


O texto "Fios de cobre" apresenta uma situação onde um interlocutor está fazendo uma ligação via telefone fixo para outro indivíduo, porém, não consegue concretizá-la, porque o destinatário estava conectado na internet - segundo as deduções do interlocutor que efetuou a chamada.


Por um lado, esse poema é histórico, já que registra o que normalmente ocorria no tempo da internet discada, uma tecnologia ultrapassada atualmente. Mas, por outro, não tem qualquer relevância dentro da literatura (pelo visto), sendo apenas um modesto gracejo infeliz dentro de uma pretensa obra literária.


Bem, é isso.

Até mais, pessoal!

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Criançada

Menininho
Sai correndo,
Cai de boca.
Vai chorar!

Menininho
Se esconde
Atrás da porta.
Vai sorrir!

Menininho
Está andando
De balanço.
Vai pular!

Menininho
Vai brincando,
Vai sorrindo.
Ele é feliz.


MENDEL, G. M.. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.


O poema "Criançada" foi a minha primeira tentativa de escrever algo voltado às crianças. (Eu não poderia postá-lo em um dia melhor, já que hoje é o Dia da Criança. E confesso que foi mero acaso.) Nele, tentei alcançar uma espécie de musicalidade típica das cirandas e de outras canções destinadas ao público infantil. E, em termos de conteúdo, tentei retratar o comportamento de uma criança ideal (no sentido de idealizada), que cai e se levanta logo em seguida, que está sempre correndo e emanando energia, que sonha e sorri a todo instante. É, em suma, um pequeno indivíduo que sintetiza e personifica a ideia que todo o adulto tem de infância, o qual é aquele período em que não há problemas e nostalgia, apenas descobertas e expectativa.