segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Cadê a democracia?

O Brasil é um país dito democrático, onde o povo teoricamente escolhe quem são seus governantes (ou opressores). A cada dois anos os brasileiros são obrigados a participar da “Festa da Democracia”. No entanto, o que ocorre parece mais uma ditadura enrustida.

Já no Horário Eleitoral Gratuito, tão aguardado pelas pessoas, pode-se perceber a gigantesca desigualdade existente entre os poderes partidários. Os partidos maiores possuem propagandas enormes e vistosas, dignas de encher os olhos de qualquer um, enquanto que os partidos menores possuem propagandas insignificantes e precárias, dignas da pena de qualquer um. (E, detalhe: muitas dessas legendas minúsculas dedicam a maior parte de seu tempo a questionar a limpeza dos bastidores da publicidade política – e isso basta para fazer valer a sua campanha.)

Há também o caso das pesquisas de intenção de voto, de utilidade discutível. Durante o período eleitoral os indivíduos são bombardeados por essas estatísticas, feitas pelos órgãos mais “ficha limpa” do país e tratadas com ares de necessidade pelos veículos de comunicação (ou manipulação). Porém, o resultado dessas investigações acaba com as chances (que já eram poucas) das siglas pequenas, pois muitos daqueles que iriam apostar nos políticos underground decidem, no fim das contas, não votar nos mesmos, tendo em vista que isso significaria anular o voto, uma escolha que poucos fizeram até hoje.

Sabe-se que o ser humano é guiado pela imagem e pelo grupo. O que a imagem (os vídeos feitos metodicamente para os candidatos) e o grupo (as pesquisas que apontam a intenção da maioria) mandam fazer, o brasileiro, um cidadão com pouca instrução crítica, faz – realizando os desejos daqueles que “mechem os pauzinhos”.

Então, é possível perceber que as eleições brasileiras, vendidas como transparentes e imparciais, pouco têm de limpinhas e bonitinhas, uma vez que só favorecem os interesses do sistema, o que não é nenhuma novidade para esta nação.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Humanotário

Para que cuspir idéias
Se as certezas se esvaem?
Necessidade humanotária
Ego longo e pavio curto

As palavras reproduzidas
Partem sempre de pressupostos inúteis
As palavras inúteis
Partem sempre de suposições reproduzidas

Nada é criado
Tudo é reproduzido
Tudo sempre existiu
E o nada me possuiu

Tudo parece criado
Pois nunca soubemos nada
Viver é como ler um texto
Só absorvemos o que é pretexto

Folhando e vivendo
Aprendendo e descobrindo
Letra por letra
Descoberta por descoberta



MENDEL, G. M. Humano expresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2007.


"Humanotário" é um poema que eu considerava bastante bom. Hoje passei a achá-lo bem podrinho. Mas vale a postagem pelo seu conteúdo. Basicamente ele fala sobre a inutilidade da reflexão humana, tendo em vista que em verdade não estamos evoluindo, como a maioria pensa.

"Ego longo e pavio curto", esse verso valoriza o todo, pois denuncia a essência do homem, da qual ele nunca fugirá: é um ser orgulhoso e violento. E qualquer um fica tomado por um vazio (um nada) quando se dá em conta de que, no fim das contas, nada vale a pena - a não ser o básico do ser humano, o amor.

Por fim, como os caras da banda Karne Krua colocaram em uma de suas músicas, "o homem tem o poder e pensa que tem a verdade; acha que está correto e, assim, vai pastando."

Até mais!

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Vagão

Ignore para poder sobreviver
O que te faz enlouquecer

O que te faz perceber
Ignorando o teu ser?

O que te faz ser
Ignorando o teu perceber?

Tudo o que te faz saber
Será ignorado por você!

Tudo o que te faz você
Será ignorado pelo saber!

Tudo o que você precisa saber
Está incorporado no seu ser

Você só precisa perceber
Antes de enlouquecer

Mas cuidado para não morrer
Percebendo quem realmente é você

Nada te deixará dormir
Quando aquela segurança sumir

Nada te deixará sumir
Quando aquela segurança dormir



MENDEL, G. M. Humano expresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2007.


"Vagão" é um dos meus poemas favoritos até hoje. O título se refere ao vagão de trem. Por quê? Porque o vagão é guiado por uma força, até onde essa força pretende levá-lo.

É um texto que trata sobre tudo aquilo que faz uma pessoa ser o que é; sobre tudo aquilo que faz uma pessoa ser o que realmente é; sobre tudo aquilo que faz o ser humano ser o que é; e sobre tudo aquilo que faz o ser humano ser o que pensa que é.

***

E aí, gostaram dele tanto quanto eu?

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

É perigoso demais

É perigoso ficar em casa
É perigoso sair
É perigoso mandar brasa
É perigoso se esvair

É perigoso fazer
É perigoso não fazer
É perigoso refazer
É perigoso desfazer

É perigoso proibir
É perigoso liberar
É perigoso reagir
É perigoso atacar

É perigoso pensar
É perigoso relaxar
É perigoso organizar...
Ou desorganizar

É perigoso se expor
É perigoso se esconder
É perigoso se opor
É perigoso se render

É perigoso dormir
É perigoso acordar
É perigoso oprimir
É perigoso aceitar

É perigoso demais
Ser um bom jovem rapaz
Nesse mundo fugaz
Nesse mundo voraz

Tudo é perigoso
Nada é seguro
Mas ser um nada é perigoso
Quando tudo é inseguro



MENDEL, G. M. Humano expresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2007.


Sobre este poema não comentarei nada. Quero deixá-lo intacto para reflexão. Gostaria de salientar apenas que ele parece um texto um tanto quanto idiota. Mas só parece.

Vou adicionar duas músicas da banda Cólera como complemento, para que a leitura seja mais rica:

MEDO: Às vezes tenho medo / Às vezes sinto minha mão / Presa pelo ar / E quando eu olho em volta / Encontro uma multidão / Presa pelo ar. / Às vezes tenho raiva / Às vezes sinto que a ilusão / Me faz recuar / Pois muita gente mente / Pois muita gente dá a mão / Só pra empurrar. / SÓ PRA EMPURRAR / SÓ PRA EMPURRAR / TE DÃO A MÃO, TE DÃO A MÃO / SÓ PRA EMPURRAR!

SOMOS VIVOS: Sempre, sempre suicido meu orgulho pessoal / Por que a gente nunca sabe / Se sabemos pra valer. / Quando pego o trem subúrbio / Caio dentro do real / Cada um é um universo / Face a face com você! / SOMOS VIVOS / MAS NASCEMOS SEMPRE QUE ERRAMOS. / ATÉ QUANDO VAMOS ESCONDER OS NOSSOS BRAÇOS? / Sinto que não temos tempo / Aumentou a pulsação / Dê uma olhada para cima / Dê uma olhada pra você. / Quando pego o trem subúrbio / Caio dentro do real / Cada um é um universo / Face a face com você!

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Crítica aos críticos

Eu sei que já falei sobre o ato de criticar em si num texto intitulado “Sobre a crítica e a autocrítica”. Porém, gostaria de complementar aquele escrito falando a respeito de algumas consequências que os censores causam.

Muito se discute a respeito da pouca leitura em nosso país, bem como da má leitura efetuada pelos poucos que se propõe a ler (redundantemente tratando, como o assunto permite). No entanto, como desejar que alguém que nunca lê o faça tão profundamente quanto um mergulhador descobrindo os mistérios de um mar pouco explorado?

Outra cena que me perturba é a seguinte: considerem o mesmo cidadão inculto mencionado acima. Esse indivíduo, tendo em mente que a leitura é uma coisa boa (de acordo com o que a TV afirma), pega para ler o novo livro mais vendido de um autor tido como fraco pelos críticos literários. Seleciona exatamente essa obra por estar em uma grande revista, na lista dos volumes mais vendidos no mês em todo o país. Um grande leitor, ciente de que existem produtos melhores, dá uma espécie de sermão cultural no pobre despretensioso, cuja intenção era somente ver para onde a literatura poderia levá-lo. Além disso, tal autoridade intelectual não se contentaria em ridicularizar um livro vazio. Ele iria indicar os clássicos ou os raros grandes contemporâneos (de acordo com a maioria dos afins da Literatura) – só para mostrar que ELE SABE!!! Todavia, meus caros, convenhamos que querer que um amador encare um Saramago de supetão é o mesmo que desejar que um telespectador de novelas assista “2001 – Uma odisséia no espaço”. O cara iria achar uma droga!!! Não iria tirar o mínimo de proveito da obra, além de se sentir desencorajado de provar qualquer outra coisa. Ele gostaria tanto do Paulo Coelho (tão detonado nos cursos de Letras)! E, devagar e sempre, poderia vir a experimentar coisas mais densas. Mas não! Aquilo não vale!

É o que a maioria dos professores de Literatura faz quando insiste que seus alunos de Ensino Médio absorvam os clássicos, ignorando completamente as sagas volumosas que os jovens gostam de curtir, como “Crepúsculo”, “Senhor dos anéis”, “Harry Potter”. Esses títulos são ruins. São péssimos! Incentivar que eles vivam de subcultura é compactuar com o desenvolvimento de um bando de idiotas. Porém, o problema é maior do que nós. O buraco é muito mais embaixo. As pessoas só consomem o que está mais a mão: sertanejo universitário, auto-ajuda, filmes com milhões de dólares investidos em efeitos especiais, etc.

Diante dos fatos, é fácil perceber que uma adolescente que vive de Fiuk não irá gostar de Machado de Assis; que um jovem viciado em NX Zero não irá gostar de Mário Quintana; que uma criança que passa o dia assistindo desenhos idiotas de hoje em dia, principalmente os orientais, terá dificuldade em gostar de qualquer coisa que não fale sobre esse universo.

SOBRETUDO, é o que eles, os que mexem os pauzinhos, desejam que continue acontecendo. E nós, meros fantoches, não podemos fazer exatamente nada. E, no meio disso tudo, os críticos são meros palhaços, tentando acordar as paredes.