quinta-feira, 28 de novembro de 2024

"Fá Sol Lá", de Guilherme Mossini Mendel


 

"Barra pesada", de Guilherme Mossini Mendel


 

"Alianças", de Guilherme Mossini Mendel


 

"Ainda sou uma criança", de Guilherme Mossini Mendel


 

"O Espírito do Opala", de Guilherme Mossini Mendel

O velho Joaquim sempre foi conhecido por seu temperamento difícil e seu amor incondicional por seu Opala 1974, um clássico brasileiro que ele cuidava com mais zelo do que qualquer outra coisa na vida. Sua neta, Luísa, uma jovem rebelde e desrespeitosa, sempre desejou o carro, mas Joaquim nunca permitiu que ela sequer tocasse no volante.

Quando Joaquim faleceu, Luísa finalmente herdou o tão cobiçado Opala. A decisão foi tomada por Carlos Alberto, genro do idoso, cujo respeito pelo sogro sempre fora inexistente. Ignorando completamente o apreço que o velho sentia pelo veículo, optou, sem pestanejar, por agradar à sua incontrolável e superestimada filha. Carlos Alberto era o infeliz proprietário de Wanderleia, rebento único de Joaquim e de sua eternamente amada e saudosa Zilda.

Sendo assim, sem qualquer respeito pela memória do avô, a herdeira do automotor começou a usar o carro de maneira irresponsável. Dirigia bêbada, usava drogas, derrubava bebida e comida no interior do veículo, e até mesmo usava o carro para encontros amorosos – incluindo aqueles mais quentes do que o motor do velho veículo. O Opala, que antes era um símbolo de orgulho e cuidado, agora estava se deteriorando rapidamente.

O espírito de Joaquim, inquieto e furioso, não conseguia descansar em paz. Ele perambulava ao redor da família, emanando uma aura de revolta e descontentamento. A cada nova transgressão de Luísa, a presença do avô se tornava mais forte e perturbadora. Os três até passaram a sentir algumas sensações estranhas, contudo não sabiam dizer do que se tratava. Inclusive, Wanderleia pediu que um padre viesse benzer a casa, o que acalmou a situação por um curto período.

Até que, em uma noite diabólica, após uma festa regada a álcool, drogas e inenarrável pegação, Luísa decidiu dirigir o Opala de volta para casa. O espírito de Joaquim, determinado a pôr fim à farra, tomou o controle do carro. Em uma curva perigosa, o Opala perdeu o controle e se chocou violentamente contra uma árvore. O acidente foi fatal para Luísa, interrompendo uma vida de aventuras, e o carro teve perda total, interrompendo uma existência de torturas.

Carlos Alberto e Wanderleia lamentaram profundamente o destino da sua amada e meiga única descendente. O pai, sobretudo, lastimou ter deixado Luísa adonar-se daquele ferro-velho.

No entanto, o espírito de Joaquim finalmente encontrou paz. Agora, ele podia vagar alegremente, dirigindo seu amado Opala em uma dimensão onde ninguém mais poderia perturbá-lo. O carro, restaurado à sua antiga glória, era novamente um símbolo de orgulho e cuidado, porém, desta vez, apenas para o espírito do velho Joaquim.