João era um homem de 45 anos que, apesar de estar sempre à mercê da má sorte, era conhecido por sua gentileza e humildade. Sua vida era marcada por miséria e dificuldades, mas ele encontrou consolo e alegria na presença de sua filha adotiva, Ana. A menina de 8 anos, deixada na porta de João por uma mãe desnaturada, era, no cotidiano do pai, uma vela acesa em um aposento tomado por uma escuridão profunda.
Ana converteu-se em uma menina adorável, querida por todos na vizinhança. Seu único desejo era ter um bichinho de estimação. Um dia, um gatinho de pelagem cinza chumbo apareceu nos arredores da casa. O felino ficou por ali alguns dias e logo se tornou a obsessão da menina. João, apesar de suas dificuldades financeiras, cedeu ao desejo da filha e permitiu que ela adotasse o gatinho, ou melhor, gatinha, batizada desde então como Ciranda.
A garotinha cuidava da mascote com todo o carinho do mundo, e até João acabou se afeiçoando ao animal. Contudo, vez ou outra, Ciranda sumia e reaparecia depois de um tempo. Algo nesse comportamento era estranho, porém Ana não se importava, desde que sua amada Ciranda voltasse sempre para casa.
Com o tempo, descobriu-se que Ciranda não era um simples bichano. Durante uma noite de tempestade, a gatinha transformou-se, diante do olhar fixo de Ana, em uma bruxa com o visual típico das antigas histórias: velha, corcunda, verruguenta, cabeluda, nariguda, queixuda. A princípio, Ana ficou apavorada, entretanto logo percebeu que a criatura mágica não queria lhe fazer mal, pois seu semblante era terno, não maligno. Então, a feiticeira, com olhos gentis e um sorriso acolhedor, explicou que só queria o bem da menina. Na verdade, Ciranda amava a criança como se fosse sua própria filha.
No decorrer dos dias, a bruxa, tocada pelo sofrimento e pela bondade de João e Ana, decidiu intervir. Transformou-se em uma jovem de beleza singela e presença cativante. Incorporando-se à rotina de ambos, passou a ajudar nas tarefas diárias e a trazer um pouco de alegria para o lar. João, encantado pela graciosidade e dedicação da moça, casou-se com ela, proporcionando à família uma nova mãe e esposa.
Desde então, a sorte dos três mudou. João conseguiu um bom emprego, e a casa prosperava. Aparentemente, essas melhorias aconteceram sem prejudicar ninguém, mas algo sinistro pairava no ar. As pessoas que, no passado, haviam barrado o sucesso de João, começaram a sofrer misteriosos infortúnios. Era como se uma força invisível estivesse punindo aqueles que fizeram mal a ele.
A vida de João e Ana floresceu, e a jovem esposa permaneceu ao lado deles, garantindo que a felicidade e a prosperidade continuassem em seu lar. Ciranda, a gata encantada, agora transformada em uma mulher de beleza singular, mantinha-se sempre por perto, como um símbolo de proteção e da magia benevolente que transformou a existência dessa família humilde.