A ansiedade dos estudantes tem se tornado um dos problemas mais desafiadores para os professores. Dia após dia, o número de crianças e adolescentes com sintomas de crises de desassossego e com diagnóstico clínico de TDAH (transtorno do déficit de atenção com hiperatividade) está aumentando visivelmente, o que afeta muito a qualidade de vida desses alunos e dificulta sensivelmente o trabalho em sala de aula.
Os jovens demonstram em seu comportamento diário o quanto estão transtornados: são imediatistas, exigindo resolver qualquer assunto, banal ou importante, no instante em que enxergam o professor diante de si; desconcentrados, sem conseguir dedicar sua atenção a algo ou alguém por mais de meia hora; e impacientes, sempre buscando subterfúgios que lhes sirvam como fuga. E essas posturas inadequadas acarretam em indisciplina, inquietação e baixo rendimento escolar.
Apesar de essas questões de saúde mental e emocional não serem uma exclusividade de pessoas em idade escolar, é nesse estágio que se tornam mais preocupantes, tendo em vista que tratam-se de indivíduos em formação, cujos aprendizados e experiências transformam-se em afirmações ou traumas para o restante da vida, com consequências que, certamente, definirão o caráter, a conduta e a carreira dessas gerações.
O fato é que o ritmo da vida humana está cada vez mais acelerado, o que, somado às cobranças que todos sofremos diariamente, por conta de tantas questões que temos a resolver “para ontem”, acarreta em uma pressão sobre-humana para a qual o corpo (e a alma) de ninguém está preparado. Por conta disso, pode-se dizer que a rotina da maior parte da população é uma bomba-relógio, prestes a explodir a qualquer momento, pois não se tem outra opção a não ser tentar dar conta de tudo aquilo que exige a nossa atenção.
E, por outro lado, é também um círculo vicioso, uma vez que o imediatismo, a desconcentração e a impaciência supracitados exigem ferramentas como o celular para agilizarmos as nossas tarefas – estratégia que, por sua vez, aumenta o imediatismo, a desconcentração e a impaciência.
Esse é o grande problema do celular, ou melhor, da internet como um todo. Buscando oferecer praticidade a quem não tem mais tempo nem paciência para nada, proporciona para os seus usuários um leque infindável de possibilidades que são, na maioria das vezes, imediatistas, descartáveis e rasas em termos de conteúdo. Por essa razão, a população está cada vez mais carente de informações fidedignas, conhecimento de mundo, memória histórica, cultura de qualidade e, originada pela ausência dos critérios anteriores, consciência política.
Penso que, para melhorar um pouco esses sintomas da vida moderna, o mais recomendável é a imersão, em doses homeopáticas, nas diversas formas de arte, principalmente na boa e velha Literatura. Não vou subestimar o poder que a música de qualidade exerce na existência de um indivíduo, nem menosprezar o valor que um filme feito para a eternidade tem para o bom senso de cada um. Mas a leitura de um bom livro não só possui a função de divertir o leitor, levando-o a refletir a respeito do comportamento das pessoas e do funcionamento do mundo, mas também o faz: criar (imaginar) a história e os personagens junto de quem traçou aquelas linhas; acalmar as suas emoções para perceber com nitidez as sensações provocadas pela obra; libertar-se, por alguns momentos, dos pensamentos que afligem a sua alma; e concentrar-se na leitura para que a experiência seja realmente completa e transformadora.
Cabe salientar, também, com a mesma relevância, a importância dos exercícios físicos regulares para a plena sanidade do ser humano, porque não basta cuidarmos da mente sem cuidarmos do corpo. Muito embora eu pense que, na atualidade, precisamos mais de cidadãos intelectual e emocionalmente sadios do que fisicamente saudáveis.
Portanto, por mais que o cotidiano não nos dê nem um minuto para respirarmos, precisamos encontrar brechas na nossa rotina (com muita organização, evidentemente) para nos dedicarmos ao nosso bem-estar e à nossa noção de mundo. É necessário sairmos um pouco desse círculo vicioso e tentarmos atrasar a bomba-relógio, para que não sejamos tão descartáveis como aquilo que consumimos na internet.