1. É notável a dependência que as crianças e os adolescentes possuem em relação aos seus celulares. Muitos inventam as mais diversas artimanhas para tentar não ficar longe de suas chupetas tecnológicas e, desse modo, evitar a abstinência. E esse vício por tais maquininhas está cada vez mais latente no desempenho escolar dos jovens. Nota-se, por exemplo, a falta de criatividade (aliada à insegurança) que a maioria dos estudantes demonstra atualmente, pois estes não realizam nenhuma tarefa sem fazer uma busca prévia na internet. Da elaboração de um simples desenho à escrita de um trabalho discursivo sobre um livro literário, o recurso eletrônico tornou-se indispensável para que os alunos construam alicerces que embasem, mesmo que de maneira informal e incorreta, tudo aquilo que desenvolvem. Nesse cenário, para os professores que já consideravam desesperadoras as pesquisas (errôneas e errantes) feitas pelos educandos na Wikipédia, surgiu o Brainly, para acabar com qualquer esforço intelectual por parte dos discentes.
2. Outro fato que se pode observar nos últimos anos é a diminuição dramática de conhecimento geral por parte dos estudantes. Por exemplo, se os professores comentam algo sobre uma personalidade dos âmbitos artístico, esportivo, político ou acadêmico, dificilmente algum aluno saberá da existência da pessoa citada. Seja John Lennon, Machado de Assis, William Shakespeare, Ayrton Senna, nada daquilo que esteja fora do senso comum naquele exato instante ou que não permeie o leque de interesses virtuais dos jovens de hoje faz parte do conhecimento deles. Por isso, está cada vez mais complicado de os docentes partirem daquilo que os estudantes já sabem para explicar qualquer conteúdo, porque dificilmente eles já ouviram falar a respeito de algo ou de alguém que realmente importe socialmente. Só dominam aquilo que está relacionado a influenciadores digitais, funkeiros e sertanejos (que se tornaram famosos ontem para voltarem ao anonimato amanhã). E, em relação ao resto, são como a personagem Chiquinha do programa televisivo “Chaves”, que não conhece nada de História porque ainda não tinha nascido quando aconteceram os eventos históricos.
3. Penso que, dentre todos os mecanismos de informação existentes até o momento, a internet é, simultaneamente, o mais libertador e o mais limitador, tendo em vista que essa ferramenta, apesar de apresentar o universo diante de quem a utiliza, acaba, na maior parte das vezes, por servir somente para que o indivíduo se “especialize” naqueles segmentos que lhe são de interesse particular. E, ainda que o usuário tenha a liberdade de buscar por meio dela exatamente aquilo que deseja, tendo a oportunidade de conhecer qualquer assunto de qualquer lugar do mundo em qualquer lugar do mundo, grande parte das pessoas acaba limitando-se a procurar mais a respeito dos conteúdos medíocres que estão em evidência naquele exato instante, uma vez que a utilização inadequada do ciberespaço é um convite ao comodismo, à falsa inclusão e ao desejo de aparecer. Ou seja, o ambiente virtual é diferente de outras fontes de informação, como o jornal, a revista, o rádio e a televisão, que, por mais combatidos e antiquados que sejam, oferecem ao consumidor um leque mais abrangente e confiável de possibilidades de crescimento cultural e intelectual. Pois, enquanto as mídias mais tradicionais demandam ética, pesquisa, apuro, preparo e profissionalismo, tudo aquilo que é publicado na internet ignora completamente essas condições. Nesse contexto, percebe-se que as crianças e os adolescentes muito raramente folheiam um jornal ou uma revista, não sintonizam uma emissora de rádio nem para ouvir os jogos de seu time de futebol favorito e só ligam a televisão para acessar serviços de streaming. E os pais normalmente não interferem nessas práticas, visto que têm a mesma responsabilidade, igual maturidade e asseguram-se de que vale qualquer coisa para que os seus filhos mantenham-se quietos.