Para não chorar cortando cebolas (04/07/2013)

Para não chorar cortando cebolas,

Chore por um amor não correspondido,
Chore por não ter tido sucesso na vida,
Chore por ter perdido um ente querido,
Chore por ter investido numa empresa falida.

Chore por ter assistido a um grande filme,
Que conta a história de um coração partido.
Chore por ter vibrado com seu grande time,
Que, de virada, venceu a última partida.

Chore por ter morrido sua mascote,
Que, durante muito tempo,
Fora sua única amiga de verdade.
Chore por ter fugido da morte,
Que, durante muito tempo,
Tentara ceifar sua felicidade.

Assim, você terá mais motivos para chorar
Do que meras cebolas...

(MENDEL, G. M.. Entretanto. Erechim-RS: AllPrint Varella, 2013.)

Desgraça (01/07/2013)

Beltrano foi um desgraçado.

Ele nasceu com o azar –

Ou teve o azar de nascer.

Não fazia nada direito,

Avesso a todas as capacidades

E habilidades humanas.

Então, decidiu cursar Direito

Para ver se endireitava.

Contudo, entortou a sua vida,

Sem vingar em qualquer coisa.

(MENDEL, G. M.. Entretanto. Erechim-RS: AllPrint Varella, 2013.)

A nova revolução dos bichos (29/06/2013)

Os bichos, para se vingarem de nós,

Quando tivessem o poder,

Poderiam devastar nossas cidades,

Nos caçar por esporte,

Nos espancar para aliviar a raiva,

Nos jogar água fervendo,

Arrancar nosso couro,

Nos dar chibatadas,

Nos deixar sem água e comida,

Nos abandonar ao relento e ao acaso,

Ostentar nossa pele, nosso pelo,

Entre outras sutilezas,

Mas não.

Eles não são seres humanos.

São animais

E dariam o exemplo.

Nos deixariam viver em paz.

(MENDEL, G. M.. Entretanto. Erechim-RS: AllPrint Varella, 2013.)

Cidadões na contracopa (19/06/2013)

Vamu levantá plaquinha

Pra gringu nus vê.

Nóis não cumemus banana,

Cumemus fejão – di antionti.

Nóis não trepemus em árvre,

Nóis as derrubemus.

Nóis bati, bati nus bichu –

Pusque nóis não semus igual.

Nóis temus pão e circu...

Mais u pão é franceis

E u circu tamém é gringu.

Viu comu nóis semus globais?

Globais comu nas nuvela.

***

A esperança do povo

É como a Amazônia:

É de um verde pulsante,

Por mais que a devastem.

(MENDEL, G. M.. Entretanto. Erechim-RS: AllPrint Varella, 2013.)

Político honesto (12/06/2013)

Na Terra do Oba-Oba,

Foi eleito um político honesto.

Dona Rosinha

Tentou vender o seu voto –

Mas ele não quis comprá-lo.

Seu Malaquias

Pediu um emprego para o seu filho –

Mas ele não quis empregá-lo.

Dona Filomena

Exigiu tinta para pintar a sua casa –

Mas ele não quis dá-la.

Assim,

Já que só atendera aos interesses

Da população em geral,

Sem satisfazer os pedidos dos indivíduos,

O político honesto

Foi deposto do cargo –

“pois não fazia nada”.

Aborrecido,

Saiu porta afora,

Concluindo:

“Os políticos são

O sintoma do povo.”

(MENDEL, G. M.. Entretanto. Erechim-RS: AllPrint Varella, 2013.)