terça-feira, 8 de março de 2016

Sobre eletrônicos e cadeiras elétricas (29/08/2011)

Crianças ricas cheiram a videogame.
Crianças pobres cheiram a dor.
Videogame e dor não rimam –
Um é do outro o opositor.

E, enquanto os ricos
Embebem-se em torpor,
Os pobres pobres
Recebem game over.



(MENDEL, Guilherme M.. Entretanto. Erechim-RS: AllPrint Varella, 2013.)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Laboratório (16/08/2011)

Alfredo tinha certeza:
Assim que começasse a trabalhar,
Ele iria morrer.
E morreu...
Apesar de já estar na labuta
Há alguns meses.

No começo,
Sua cabeça pesava;
Depois,
Acostumou-se à rotina.
E foi ficando leve,
Leve, leve, vazia
Como a sua alma.

***

Enfim, Alfredo,
Após a labutomia,
Tornou-se útil socialmente.



(MENDEL, G. M.. Entretanto. Erechim-RS: AllPrint Varella, 2013.)

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Alianças (08/07/2011)

Ciúme é como saudade –
Um sentimento possessivo
Que os tolos entendem
Como algo plural.

Plural é o amor,
Que só deixa marcas,
Embora insistam
Em desvirtuá-lo.

***

A aliança é uma algema
Feita para indicar
Corações fisgados
Ou impedidos de amar.

Quando os dois formam um,
Não há o que temer.
E a verdadeira aliança
É modelada na alma.



(MENDEL, Guilherme M.. Entretanto. Erechim-RS: AllPrint Varella, 2013.)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Qual é o fardo? (15/06/2011)

Qual é o fardo do homem bom?
Qual é o fardo do homem-bomba?
Qual é o fardo do homem bombado?

O fardo do homem bom
É a diária bomba
Que deve desarmar.
O fardo do homem-bomba
É o orgulho bombado
Que deve satisfazer.
O fardo do homem bombado
É não ser o bom –
O que o faz explodir.



(MENDEL, G. M.. Entretanto. Erechim-RS: AllPrint Varella, 2013.)

sábado, 12 de dezembro de 2015

Samba triste ao porvir (17/05/2011)

Tenho saudade daquilo
Que não vivi.
Acho que a vida
Está cada vez pior.
Busco esperança
Num amor
Forte e profundo.
E me preparo
Pras desgraças
Do futuro.

Hoje as mães
Já não acalentam mais.
E nossos filhos são bastardos
De aventuras.
Ninguém trabalha,
Todos ganham um emprego.
Passar a perna é o segredo
Do sucesso.

E o buraco fica
Cada vez mais fundo.
E a natureza fica
Cada vez mais fula.
Cada um cuida
Da sua própria sepultura
E vai matando
O amanhã de seus filhos.



(MENDEL, G. M.. Entretanto. Erechim-RS: AllPrint Varella, 2013.)



O nome desse poema é "Samba triste ao porvir" pois, assim como outro(s) texto(s) de minha autoria, surgiu como uma letra para um samba de raiz. (Nesse caso, como um samba carioca.) E, já que sou musicalmente incompetente, transformo algumas das canções que componho em poesia.