sexta-feira, 7 de março de 2014

Galvão e suas azas

Galvão queria voar,
Pois estava cheio de ficar preso aos limites da terra.

Um dia, de tanta vontade pulsando dentro dele,
Surgiram asas nas costas do rapaz.
Então, Galvão subiu aos céus...

No entanto, depois de voar durante dias,
Percebeu que estava ficando profundamente só.
Ninguém além dele podia chegar àquela altitude.

Porém, sabia que não poderia fazer nada,
Porque suas asas não paravam mais de bater.

Desde então, Galvão continua voando,
À procura de alguém que, no mínimo, esteja no topo de uma montanha,
E que, dessa forma, possa lhe fazer companhia.


(MENDEL, G. M.. Sobretudo. Erechim-RS: EdiFAPES, 2010. p. 38.)

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Bullying

Vai brincando...
Vai brincando...
Vai brincando...

Vai sofrendo...
Vai sofrendo...
Vai sofrendo...

dor!
Dor!
DOR!

trauma!
Trauma!
TRAUMA!

isolamento.
Isolamento.
ISOLAMENTO.

Rótulo aplicado no sangue;
Desconforto interminável;
Existência inadequada;
Consequências irreversíveis.


(MENDEL, G. M.. Sobretudo. Erechim-RS: EdiFAPES, 2010. p. 37.)


Este poema, com certeza, retrata muito bem o que sente uma pessoa que sofre (ou já sofreu) de bullying. Infelizmente, estou em condições de dizer esse "com certeza", porque tenho conhecimento de causa.

Para quem ficou meio perdido com esse comentário, basta ler este relato: 
http://restolholiterario.blogspot.com.br/2011/05/o-bullying-e-eu.html

Obrigado pela atenção!

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Sobre o azar

Todos os dias, um cão passava fome. Olhava para um homem e este lhe dava um coice. Olhava para uma mulher e esta lhe expulsava a gritos. Fugia de carros e de bicicletas. Ninguém lhe dava atenção. Também, como ele poderia pedir comida, se não sabia comunicar sua fome? E, ultimamente, nem do lixo deixavam pegar! A sorte vinha quando chovia... Pelo menos, nesses dias, ele podia beber das poças.

***

Todos os dias, um homem passava fome. Pedia para um homem e este lhe dava um pão dormido. Pedia a uma mulher e esta lhe dava uns trocados. Desviava de carros e de bicicletas, embriagado de álcool e dor. Sentado num banco da praça, comia do pão. Com os trocados que havia arrecadado, conseguia um pouco de droga, para esquecer do azar que lhe perseguia.

***

Na praça, o cão encontra um homem desacordado num banco. Ao lado do homem, um pequeno pedaço de pão. Sorrateiramente, o cão pega o pão e corre. E, assim, sobrevive, driblando, travesso, a maldade do homem.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Iguarias

O passado tem gosto de docinho de coco.
O presente tem gosto de noz.
O futuro tem gosto de bem-casados.

A vida tem cor de morango
E cheira a perfume de baunilha –
Café e chocolate amargos,
Atiçando a doçura dos prazeres.


(MENDEL, G. M.. Sobretudo. Erechim-RS: EdiFAPES, 2010. p. 36.)

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

De corpo e alma

Para que você consiga dançar
Não é seu corpo que deve estar flexível,
E sim, o seu âmago.

Para que você consiga apaixonar
Não é seu corpo que deve estar em forma,
E sim, o seu âmago.

Para que você consiga ser feliz
Não é seu corpo que deve estar sorrindo,
E sim, o seu âmago.


(MENDEL, G. M.. Sobretudo. Erechim-RS: EdiFAPES, 2010. p. 35.)