quinta-feira, 28 de novembro de 2024
"Ciranda, a Gata Encantada", de Guilherme Mossini Mendel
João era um homem de 45 anos que, apesar de estar sempre à mercê da má sorte, era conhecido por sua gentileza e humildade. Sua vida era marcada por miséria e dificuldades, mas ele encontrou consolo e alegria na presença de sua filha adotiva, Ana. A menina de 8 anos, deixada na porta de João por uma mãe desnaturada, era, no cotidiano do pai, uma vela acesa em um aposento tomado por uma escuridão profunda.
Ana converteu-se em uma menina adorável, querida por todos na vizinhança. Seu único desejo era ter um bichinho de estimação. Um dia, um gatinho de pelagem cinza chumbo apareceu nos arredores da casa. O felino ficou por ali alguns dias e logo se tornou a obsessão da menina. João, apesar de suas dificuldades financeiras, cedeu ao desejo da filha e permitiu que ela adotasse o gatinho, ou melhor, gatinha, batizada desde então como Ciranda.
A garotinha cuidava da mascote com todo o carinho do mundo, e até João acabou se afeiçoando ao animal. Contudo, vez ou outra, Ciranda sumia e reaparecia depois de um tempo. Algo nesse comportamento era estranho, porém Ana não se importava, desde que sua amada Ciranda voltasse sempre para casa.
Com o tempo, descobriu-se que Ciranda não era um simples bichano. Durante uma noite de tempestade, a gatinha transformou-se, diante do olhar fixo de Ana, em uma bruxa com o visual típico das antigas histórias: velha, corcunda, verruguenta, cabeluda, nariguda, queixuda. A princípio, Ana ficou apavorada, entretanto logo percebeu que a criatura mágica não queria lhe fazer mal, pois seu semblante era terno, não maligno. Então, a feiticeira, com olhos gentis e um sorriso acolhedor, explicou que só queria o bem da menina. Na verdade, Ciranda amava a criança como se fosse sua própria filha.
No decorrer dos dias, a bruxa, tocada pelo sofrimento e pela bondade de João e Ana, decidiu intervir. Transformou-se em uma jovem de beleza singela e presença cativante. Incorporando-se à rotina de ambos, passou a ajudar nas tarefas diárias e a trazer um pouco de alegria para o lar. João, encantado pela graciosidade e dedicação da moça, casou-se com ela, proporcionando à família uma nova mãe e esposa.
Desde então, a sorte dos três mudou. João conseguiu um bom emprego, e a casa prosperava. Aparentemente, essas melhorias aconteceram sem prejudicar ninguém, mas algo sinistro pairava no ar. As pessoas que, no passado, haviam barrado o sucesso de João, começaram a sofrer misteriosos infortúnios. Era como se uma força invisível estivesse punindo aqueles que fizeram mal a ele.
A vida de João e Ana floresceu, e a jovem esposa permaneceu ao lado deles, garantindo que a felicidade e a prosperidade continuassem em seu lar. Ciranda, a gata encantada, agora transformada em uma mulher de beleza singular, mantinha-se sempre por perto, como um símbolo de proteção e da magia benevolente que transformou a existência dessa família humilde.
"O Espírito do Opala", de Guilherme Mossini Mendel
O velho Joaquim sempre foi conhecido por seu temperamento difícil e seu amor incondicional por seu Opala 1974, um clássico brasileiro que ele cuidava com mais zelo do que qualquer outra coisa na vida. Sua neta, Luísa, uma jovem rebelde e desrespeitosa, sempre desejou o carro, mas Joaquim nunca permitiu que ela sequer tocasse no volante.
Quando Joaquim faleceu, Luísa finalmente herdou o tão cobiçado Opala. A decisão foi tomada por Carlos Alberto, genro do idoso, cujo respeito pelo sogro sempre fora inexistente. Ignorando completamente o apreço que o velho sentia pelo veículo, optou, sem pestanejar, por agradar à sua incontrolável e superestimada filha. Carlos Alberto era o infeliz proprietário de Wanderleia, rebento único de Joaquim e de sua eternamente amada e saudosa Zilda.
Sendo assim, sem qualquer respeito pela memória do avô, a herdeira do automotor começou a usar o carro de maneira irresponsável. Dirigia bêbada, usava drogas, derrubava bebida e comida no interior do veículo, e até mesmo usava o carro para encontros amorosos – incluindo aqueles mais quentes do que o motor do velho veículo. O Opala, que antes era um símbolo de orgulho e cuidado, agora estava se deteriorando rapidamente.
O espírito de Joaquim, inquieto e furioso, não conseguia descansar em paz. Ele perambulava ao redor da família, emanando uma aura de revolta e descontentamento. A cada nova transgressão de Luísa, a presença do avô se tornava mais forte e perturbadora. Os três até passaram a sentir algumas sensações estranhas, contudo não sabiam dizer do que se tratava. Inclusive, Wanderleia pediu que um padre viesse benzer a casa, o que acalmou a situação por um curto período.
Até que, em uma noite diabólica, após uma festa regada a álcool, drogas e inenarrável pegação, Luísa decidiu dirigir o Opala de volta para casa. O espírito de Joaquim, determinado a pôr fim à farra, tomou o controle do carro. Em uma curva perigosa, o Opala perdeu o controle e se chocou violentamente contra uma árvore. O acidente foi fatal para Luísa, interrompendo uma vida de aventuras, e o carro teve perda total, interrompendo uma existência de torturas.
Carlos Alberto e Wanderleia lamentaram profundamente o destino da sua amada e meiga única descendente. O pai, sobretudo, lastimou ter deixado Luísa adonar-se daquele ferro-velho.
No entanto, o espírito de Joaquim finalmente encontrou paz. Agora, ele podia vagar alegremente, dirigindo seu amado Opala em uma dimensão onde ninguém mais poderia perturbá-lo. O carro, restaurado à sua antiga glória, era novamente um símbolo de orgulho e cuidado, porém, desta vez, apenas para o espírito do velho Joaquim.
terça-feira, 26 de novembro de 2024
quinta-feira, 14 de novembro de 2024
Dicas de filmes - Parte 21
01- "Sujou... Chegaram os Bears" (Bad News Bears), dirigido por Richard Linklater (2005);
- "Sujou... Chegaram os Bears" é uma comédia infantojuvenil que gira em torno de um time de beisebol formado por crianças muito diferentes umas das outras. Nenhuma delas tem o perfil de "popular da escola"; pelo contrário, são excluídas e sofredoras de bullying. Sem qualquer noção sobre os fundamentos do esporte, elas precisam se preparar para um campeonato. A missão de treiná-los é dada a um ex-jogador desajustado, interpretado por Billy Bob Thornton. O filme aborda temáticas relevantes de maneira irreverente, como inclusão, amizade, união, diversidade, o valor de cada um, sucesso, fracasso, superação, família, o desafio de ensinar e exemplos de vida. Além disso, questiona e transforma as ideias comuns de mocinho e bandido, bem como retrata as mudanças pelas quais os EUA passaram nas últimas décadas.
02- "Sobrevivente" (Djúpið), dirigido por Baltasar Kormákur (2012);
- Inspirado em uma história real, "Sobrevivente" é um drama emocionante que segue a jornada de um pescador islandês que sobrevive a um naufrágio em águas extremamente geladas e precisa lutar contra a natureza hostil para se manter vivo. Baltasar Kormákur captura a resiliência humana e a vontade de sobreviver do personagem, criando uma experiência cinematográfica profundamente impactante.
03- "A um passo da eternidade" (From Here to Eternity), dirigido por Fred Zinnemann (1953);
- Situado no Havaí antes do ataque a Pearl Harbor, este filme explora questões relacionadas ao amor, ao dever e ao sacrifício. Com uma direção magistral de Fred Zinnemann, o filme equilibra drama pessoal com o pano de fundo histórico. Além disso, os personagens são marcantes e as atuações, inesquecíveis. Em resumo, basta dizer que a obra ganhou vários prêmios, incluindo o Oscar de Melhor Filme.
04- "O Último Hurra" (The Last Hurrah), dirigido por John Ford (1958);
- O filme é centrado em um veterano político, interpretado por Spencer Tracy, que disputa uma última eleição. "O Último Hurra" é uma meditação sobre a mudança dos tempos e a natureza efêmera do poder, com performances fortes e a direção habilidosa de Ford, que desenvolve a narrativa com uma riqueza emocional e humana.
05- "Serenata Prateada" (Penny Serenade), dirigido por George Stevens (1941).
- "Serenata Prateada" é um drama romântico estrelado por Cary Grant e Irene Dunne. A história narra a vida de um casal refletindo sobre sua trajetória juntos enquanto enfrentam uma crise no casamento. O filme é uma montanha-russa emocional, habilmente dirigido por George Stevens, que equilibra momentos de alegria e tristeza de maneira tocante. As performances de Grant e Dunne são notáveis, conferindo profundidade e autenticidade aos seus personagens.