sábado, 16 de junho de 2018

Monique

Monique era uma menina estranha. O que não era nada estranho era o seu sofrimento por conta disso.

Com catorze anos, frequentava a escola como qualquer garota normal. Mas ela não era normal! Não que tivesse alguma deficiência. Longe disso! Monique simplesmente não estava à vontade com a sociedade em que vivia. Por isso, não se misturava com os colegas, não compartilhava de suas preferências e dificilmente sua voz era ouvida. Nunca tivera amigos nem o amor de sua indiferente família. E, assim, por não ser bonita nem popular, mas peculiar e repulsiva, era vítima de bullying diariamente.

Tudo o que a estudante desejava era ficar em paz. Porém, não a deixavam sossegada nem por um momento. Por onde passava, sempre havia alguma testemunha de sua presença. E quem a notava tinha que ofendê-la; na maioria das vezes, apenas por puro impulso.

Então, exatamente numa sexta-feira 13, enquanto voltava da escola, Monique atirou-se na frente de um ônibus, por não mais suportar a sua situação nem encontrar esperança de um futuro melhor. Alguns dos seus algozes do colégio, que estavam logo atrás, presenciaram toda a ação. E um deles, ao passar pela agonizante desgraçada, sussurrou: “Morre logo, sua maldita bizarra!”. Em seguida, a menina encerrou sua existência, levando consigo um sentimento insaciável de revolta.

Por isso, sem poder descansar nem depois de procurar o descanso eterno, o espírito da estudante começou a sua interminável vingança. Uma a uma, as pessoas que fizeram algum mal a ela passaram a sofrer tragédias terríveis e inexplicáveis. Na maioria das vezes, pouco sobrava dos corpos das vítimas, cujas mortes aconteciam após explosões, acidentes violentos, combustões espontâneas. Realmente, para os vivos, parecia que um fenômeno estranho estaria planejando aqueles acidentes improváveis.

Contudo, ninguém, mesmo depois de um bom tempo, ligou as mortes à finada garota. Por conta disso, ela sentiu que nem assim teriam qualquer consideração por ela e, consequentemente, qualquer arrependimento pelos seus atos malvados. E, desse modo, Monique continua vagando por aí, mais indignada do que nunca, às vezes apossando-se de crianças e jovens de quem os outros debocham para ajudá-los a lidar com essa situação.

Portanto, se você ofende alguém sem qualquer razão, tome muito cuidado, porque tudo o que vai um dia pode voltar. E, por vezes, com uma intensidade bem maior.

terça-feira, 12 de junho de 2018

Canção fúnebre

Segundo conto de terror que me atrevi a escrever:



Canção fúnebre

Em todas as sextas-feiras à noite, meu vizinho de cima convidava seus amigos desmiolados para uma festinha regada a muita cerveja barata, música de baixíssima qualidade e conversa enlouquecedora. E, além da falta de respeito com o restante dos moradores do prédio, fato que já seria o suficiente para reprovar esse comportamento, o que agrava a minha situação é que eu me levanto bem cedo aos sábados para trabalhar.

Pelo jeito, não seria diferente em uma sexta-feira 13...

Eu tinha tido uma semana terrível! Estava completamente acabado! Assim que comecei a sentir sono, olhei para o meu relógio de pulso e observei que já era quase meia-noite. Por um milagre, o prédio estava no mais tenebroso silêncio. Por isso, satisfeitíssimo, dirigi-me ao meu quarto. Tentaria ter uma inigualável noite de sono!

De repente, no momento em que vesti as calças do meu pijama, passei a ouvir uma música em volume ensurdecedor vindo do apartamento logo acima. Contudo, não era do mesmo estilo ridículo de sempre! O som que eu estava ouvindo era o da minha canção favorita, do bom e velho rock and roll.

Porém, desta vez, não fiquei contente ao escutá-la, pois, bom ou ruim, o barulho não me deixaria dormir. Então, para satisfazer a minha curiosidade, subi as escadas em direção àquele apartamento. Diante da porta, dei algumas batidinhas, para ver se alguém me atendia. Passados alguns minutos sem resposta, tentei virar a maçaneta, a qual se abriu com extrema facilidade. Aturdido, decidi entrar no local, embora alimentasse o receio pelo comportamento do meu colega de condomínio, cujas atitudes normalmente lembravam as de um lobisomem enfurecido.

Após algum tempo de investigação, não encontrei ninguém naquele lar, odioso lar. E, para a minha inteira surpresa, o aparelho de som estava até mesmo fora da tomada (!!!). Ao fechar a porta, a música sumiu misteriosamente…

Voltei ao meu apartamento e, finalmente, dormi.

No dia seguinte, quando cheguei à portaria do edifício, encontrei-me com o síndico. Questionei-lhe sobre o barulho da noite anterior. Para a minha estupefação, ele não tinha ouvido nada.

Chegando ao meu local de trabalho, observei um exemplar do jornal do final de semana em cima do balcão da recepção. Peguei-o, folheei suas enormes páginas com certa dificuldade e, numa pequena notícia, li: meu vizinho havia sofrido um acidente de carro fatal na noite anterior. E, enquanto agonizava (e, posteriormente, jazia em seu carro), eu ouvia aquela música em seu apartamento.

Apesar do espanto, pensei, sorrindo para mim mesmo: valeu a pena ter ido àquela consulta com a bruxa!

A ocasião faz o terror

Alguns alunos me pediram para que eu contasse histórias de terror para a turma deles. Após encontrar muitos textos escritos de maneira incompetente, pois narravam acontecimentos interessantes mas com erros grotescos, tentei escrever alguma coisa nesse sentido.

Aqui vai o primeiro:



A ocasião faz o terror

O fim de semana finalmente havia chegado.

Numa sexta-feira 13, decidi sair para caminhar à noite. Pretendia relaxar um pouco e beber alguma coisa; talvez, até mesmo, conhecer alguém interessante.

Durante a minha caminhada, passei por uma conveniência e comprei uma cerveja. Em seguida, avistei uma praça. Fui até lá e sentei-me em um banco um tanto quanto retirado, para poder esvaziar a minha garrafinha em paz.

Depois de um tempo, estando meio distraído, não vi quando uma bela moça sentou-se ao meu lado. Ou melhor, percebi a sua presença apenas no momento em que me perguntou: “Boa noite! Você teria um isqueiro, por favor?”. Disse a ela que não, que não tinha o isqueiro, pois não fumava. Mesmo assim, permaneceu ao meu lado e começamos uma longa e prazerosa conversa.

Constatei que a jovem estava afim de mim, pelo que falava, pelo jeito que me olhava e pela sua linguagem corporal. Por isso, arrisquei um beijo. Ela não o recusou. Pelo contrário, acredito que era tudo o que ela estava querendo, porque não me deixava mais separar meus lábios dos seus. Foi quando, em meio à nossa pegação, observei que tinha uma cicatriz horrenda no pescoço. Ao questioná-la sobre isso, afirmou, triste e encabulada, que havia sido um acidente. Portanto, evitando magoá-la, não mais toquei no assunto. Logo, dei-lhe um apertado abraço e voltamos a nos beijar.

De repente, em meio ao nosso êxtase, perguntei qual era o seu nome. Ela se esquivou e, por sua vez, me perguntou que horas eram. Eu respondi que faltavam somente alguns poucos minutos para a meia-noite. Sobressaltada com a minha resposta, levantou-se e saiu correndo, gritando que precisava ir embora.

Achei tudo aquilo muito estranho, bem como lamentei não ter tido tempo de pedir mais informações a seu respeito, pois a achei bastante interessante. Enfim, após esse balde de água fria, acabei indo para casa.

No sábado de manhã, assim que me levantei, fui à padaria para tomar um café da manhã bem especial. Pedi um café espresso e um folhado de presunto e queijo a atendente. Sentei-me em um lugar perto do balcão para fazer a leitura do jornal do dia. Apesar do fato acontecido na véspera, eu havia acordado particularmente bem. Contudo, algo no jornal me deixou extremamente chocado. Fiquei branco como gesso e comecei a tremer tanto que derrubei meu café. Na parte baixa da primeira página constava uma nota onde familiares convidavam os leitores para a missa de sétimo dia de falecimento de uma bela moça. Exatamente aquela com quem curti a noite passada, reconheci ao ver a foto.

Estarrecido, peguei o meu celular na mão, escrevi o seu nome completo em um site de buscas e a notícia mais recente encontrada sobre ela era: “Jovem é assassinada por namorado ciumento”. Ao ler o restante do texto, descobri que o assassino arrastara a lâmina de uma enorme faca na veia jugular da vítima e que o crime ocorrera na sexta-feira retrasada, à meia-noite.

Eis aí o motivo daquela cicatriz...