sexta-feira, 25 de abril de 2014

O fazer poético

Existem duas formas
de se fazer poesia:
a forma esculpida
e a forma escarrada.

A forma esculpida
é aquela em que o poeta
molda as palavras
de modo a produzir
um texto bonitinho.

A forma escarrada
é aquela em que o poeta
é pego por uma ânsia,
de mexer com quem lê
suas incontidas ideias.


(MENDEL, G. M.. Sobretudo. Erechim-RS: EdiFAPES, 2010. p. 47.)


No texto "O fazer poético" pretendi comentar a respeito dos diversos modos de se escrever um poema. Há aqueles oriundos da inspiração e os nascidos do nada, da tentativa de se produzir um texto em versos. Confesso que, no começo da carreira, empolgado com a ideia de escrever poesia, construí alguns poemas forçados, a partir do zero, só pela vontade de fazer número. E esses foram os meus maiores erros, pois os meus melhores títulos sempre foram aqueles que surgiram em momentos de inspiração.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Floricultura

A bromélia morreu.
E, junto com ela,
A minha paixão por Margarida.

Joguei a rosa fora,
Mas fiquei com os espinhos.


(MENDEL, G. M.. Sobretudo. Erechim-RS: EdiFAPES, 2010. p. 46.)


O poema "Floricultura" é um dos meus favoritos. Elaborado com poucos versos, esse texto permite diversas interpretações, de acordo com a capacidade e os conhecimentos de cada leitor.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

A lamentável busca de Fulano pela plenitude...

A Vida só reservava para Fulano
caminhos bloqueados, ruas
sem fim, linhas ocupadas...
Enfim, corações acomodados.

Assim, ele ia seguindo, não sei
se em frente, sempre sozinho...

Mas, quanto mais passos dava,
mais o tempo passava...
E, desse modo, a vida de Fulano:
era uma eterna busca
que não resultava em ouro;
era uma eterna caminhada
que não levava a lugar algum;
era uma série de tentativas
com fracassados investimentos...

Por isso, não era um homem
pleno. Sentia-se vazio, frustrado,
cansado, sem nada a perder...


(MENDEL, G. M.. Sobretudo. Erechim-RS: EdiFAPES, 2010. p. 45.)

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Ante

Atacante é aquele
Que ataca.

Importante é aquele
Que importa.

Mas...

Amante é aquele
Que ama?

Ignorante é aquele
Que ignora?

Ou...

Amante é aquele
Que é amado,
E ignorante é aquele
Que é ignorado?

Talvez os dois,
Talvez nenhum...


(MENDEL, G. M.. Sobretudo. Erechim-RS: EdiFAPES, 2010. p. 43.)

Um Sancho Sem Pança

Eu estava voltando do supermercado, repleto de guloseimas. Passei por um miserável da pior espécie. Há duas formas de se ser um miserável: você pode ser uma péssima pessoa ou pode estar bem abaixo da linha da pobreza. E o senhor que avistei era do tipo que não tinha nem um centavo nos bolsos, o que é realmente terrível para ele (e para a humanidade). Atrás desse homem, que puxava um enorme carrinho de recicláveis, vinha o seu fiel escudeiro, um surrado cão manquitolante.

Então, lembrei-me da Nina, a minha adorável cachorrinha mimada, a qual agrado o máximo possível (dentro das minhas parcas possibilidades). Ela, irracional que é, provavelmente não tem conhecimento sobre as racionais diferenças criadas pelo sábio ser humano, que se acha o dono do mundo por ter a capacidade de falar e de cometer maldades.