quarta-feira, 25 de maio de 2011

O bullying e eu

Assim como inúmeros outros desafortunados, sofri horrores quase que indescritíveis com o bullying, isso em um tempo (década de 90) onde nem existia tal conceito.

Para relatar esses meus pesadelos, é preciso retomar a história de minha vida até o ano de 2002, quando fiz 15 anos.

Minha vida até a primeira série

Até a primeira série do Ensino Fundamental, eu era uma criança extremamente feliz, idêntica às outras. Na época, a única frustração que possuía era a pouca habilidade para subir em árvores – atividade importantíssima na escola de Educação Infantil em que estudava.

No entanto, quando passei ao Ensino Fundamental, os adultos começaram a cobrar de mim uma postura completamente diferente, mais séria, a qual não conseguia assimilar. Eu era uma criança demasiadamente contente e brincalhona para a escola, e sofri em excesso por conta disso. Todos os dias a minha atenciosa mãe era chamada àquela instituição por causa das minhas travessuras, as quais, em verdade, eram atitudes naturais de um serzinho repleto de energia e vontade de viver.

A segunda série e a nova escola

Desse modo, para tentar resolver os nossos problemas, no momento em que eu entraria para a segunda série meus pais me trocaram de colégio. Lá, como não conhecia ninguém, foi mais fácil atingir o objetivo de me transformar em um robozinho, que apenas ficava parado, ouvia, fazia as atividades solicitadas e não conversava com os colegas. Isso fez com que eu ficasse cada vez mais fechado. E os demais meninos tentaram interagir comigo da pior maneira possível. Assim, fui ficando gradativamente menos tolerante e mais ofendido com as brincadeiras e traquinagens daquela sociedade inicial com a qual era obrigado a conviver. Foi aí que tudo teve início.

Cotidianamente vítima de agressões morais e verbais, tornei-me agressivo, respondão e valentão. E, quanto mais ficava nervoso, mais riam de mim e me agrediam verbal e fisicamente. Então, todos os dias eu e mais alguns garotos íamos para a direção e assinávamos advertências. Todos, por brigarmos. (Porém, em verdade, eles por me utilizarem de saco de pancadas; eu, por tentar me defender.)

As consequências disso foram as seguintes: meus pais continuavam sendo chamados à escola (e sabiam perfeitamente do que eu sofria, porque fazia questão de contar a ambos – o que foi muito importante); fui ficando ano a ano mais isolado, nervoso e depressivo, conquistando, involuntariamente, a fama de briguento no colégio; comecei a engordar, pois depositava as minhas frustrações na comida; e, por último, acabei me transformando em um opressor também, tendo em vista que agredia os mais raquíticos e bajuladores da escola – provavelmente um mecanismo de defesa para não acabar de uma vez por todas com a minha autoestima.

O bullying e o ódio pela escola

Após algum tempo sofrendo com o bullying, ir para a escola havia se tornado um pesadelo para mim, pois ia até lá para ser agredido e ofendido todos os dias, além de ser repreendido pelos diretores e coordenadores daquela instituição – simplesmente por me defender.

Passei a ter um ódio mortal pela educação. Não sei como o meu rendimento não caiu expressivamente por conta de tudo que acontecia comigo. Do contrário, fui me tornando um aluno diferenciado; quieto, problemático, mas dedicado.

O papel do meu irmão mais velho

Durante algum tempo, o meu irmão estudou no mesmo local que eu. Aqueles foram os anos menos complicados, porque, ao menor sinal de perigo, corria para os enormes braços do meu irmão, que, junto de seus amigos, protegiam-me dos meus algozes. Eles eram os meus heróis. Não faziam mal nenhum aos outros; apenas falavam que eu não estava sozinho e que eles eram maiores.

Contudo, logo o meu segurança teve de ir para outra escola, uma vez que a nossa, na época, não oferecia o Ensino Médio. E, desprotegido, fui atirado aos urubus, pois, agora, somente nos finais das aulas os meus protetores apareciam para revelar que eu tinha alguém concreto que olhava por mim – o que, de certa forma, amenizava a situação por pouco que fosse.

Por isso, cabe salientar o enorme papel que um irmão mais velho (e interessado) tem na redução dos efeitos do bullying.

O caso da capela

Certa vez, entrei em combate com um colega para me defender de suas agressões verbais e físicas, já que, invariavelmente, passei ano após ano sem levar desaforo para casa, tamanho o estresse que a situação toda me causava.

O “tio do recreio” nos levou à diretoria. E a diretora, utilizando-se de seus métodos, fez com que nós fôssemos à capela da escola e escrevêssemos cem vezes, em folhas de almaço, com letras bem caprichadas, a frase “Eu não devo mais brigar na escola.”. O outro deu uma de malandro, escreveu a sentença menos vezes, dando uma “maquiada” na tarefa, e foi-se embora antes do tempo. Eu, ficando sozinho na casa do Senhor, pensando que Ele havia me abandonado (porque me sentia o ser humano mais desgraçado do mundo), comecei a chorar um bom pouco, lamentando o meu azar. Terminado o trabalho (depois que todos já haviam ido para as suas respectivas casas), ainda chorando, deixei o manuscrito em cima da mesa da diretora. Em seguida, ainda chorando, fui para casa. Depois, não consigo recordar de mais nada. Ainda bem! Essa foi uma das piores experiências da minha vida.

A ida a Porto Alegre

Aos 13 anos, quando eu iria para a sétima série, o meu pai teve de ir trabalhar em Porto Alegre., apesar da grande mudança de contexto, tive a infelicidade de levar o bullying comigo.

Na metrópole, eu era apenas um guri estranho do interior: falava diferente, usava roupas diferentes, gostava de músicas diferentes, tinha costumes diferentes, era gordo, feio, triste e tímido. E os outros, os malandros da capital, sentiam-se deuses perto de mim. Para quase todos, a convivência com alguém do interior era um enorme motivo para que eles agradecessem terem nascido na capital, cidade importante, onde realmente faziam parte do mundo.

O retorno para Erechim

Eu tinha 14 anos e estava pronto para começar a cursar o Ensino Médio. Retornei à mesma instituição em que estudara antes de sair de Erechim. Os meus ex-colegas me reconheceram (e não me reconheceram). Ou seja, sabiam quem eu era, mas perceberam o quanto estava mudado.

Porto Alegre havia me transformado em um menino completamente isolado, o qual transpirava ódio, um adolescente bastante diferente da criança ainda capaz de sorrir que havia deixado para trás, na minha cidade natal.

Contudo, aos poucos, eles foram se reaproximando. Fui perdendo o medo e ganhando grandes e importantes amigos. Desse modo, pouco depois, no mesmo ano (2002), perdi mais de 20 kg em menos de três meses, o que me transformou em uma nova pessoa por dentro e por fora.

Além disso, aconteceu um fato de importância imensurável: o meu maior opressor de antigamente, voltando a ser meu colega, pediu perdão por conta própria, percebendo o quanto havia errado comigo. Isso fez com que a minha luta não tivesse sido em vão. Ali descobri que sempre havia sido a parte mais fraca, a minoria; todavia, não a errada.

As consequências do bullying para mim

Infelizmente, até hoje, quando alguém está dando risada próximo a mim, sempre me sinto bastante perturbado, envergonhado, pois tenho a sensação de que aqueles risos são direcionados à minha pessoa. Nas vezes em que isso acontece, fico pensando se há alguma coisa errada com minha postura, com minha aparência. Sei que isso nunca irá mudar, pois é algo que já ficou marcado.

Ainda, quando alguém me elogia, essas palavras evaporam logo. Porém, quando alguém me faz a mínima crítica, isso acaba comigo.

Portanto, prosseguirei sendo um ser humano diferente, um sobrevivente do bullying. Esse mal me deixou mais independente, sério, humilde e humano; alguém que prefere estar só a mal-acompanhado, trabalhar sozinho e fazer atividades individuais, como: ler, caminhar, escutar música, assistir a filmes. E, do meu jeito, faço a minha felicidade diária com as próprias mãos.

***

Por meio da minha experiência, sinto que não há nada que se possa fazer para reverter as consequências do bullying em uma pessoa. A única atitude possível (e necessária) a ser tomada é não praticá-lo.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Falta de tempo ou de interesse?

Diariamente, muitas pessoas falam que gostam de ler (e até mesmo que gostariam de ler determinada obra em especial), mas que não têm tempo para tal atividade ao longo de seus dias. No entanto, seria essa mais uma consequência da nossa cada vez mais atribulada rotina ou apenas mais uma desculpa para escapar da leitura?

Esses indivíduos alegam que acordam cedo, trabalham durante o dia inteiro, retornam às suas casas apenas à noite, fatigados, estressados, e têm mais uma boa quantidade de tarefas pendentes a resolver. Porém, duvido que eles não consigam contar com pelo menos dez ou quinze minutos diários para dedicar à leitura de um livro - principalmente no quarto, antes de se deitarem.

Por isso, acredito que a falta de tempo é mais uma justificativa quase convincente para esconder a preguiça, cujo poder oprime os seres humanos desde sempre, fadando-os à lei do menor esforço. E, desse modo, eles fogem do exercício, da leitura, do alongamento, do passeio com o cachorro, entre outras necessidades que exigem vontade para serem realizadas.

domingo, 8 de maio de 2011

Dor de cabeça

Dor repentina
Dor passageira
Dor que alucina
Dor costumeira

Resultado do acúmulo
Resultado do exagero
Resultado do infortúnio
Resultado de um anúncio

A denúncia da doença
A pronúncia da sentença
O prenúncio de uma queda
O prescrito de uma era

Ela é sempre um alerta
P’ra esse demente estilo de vida
Ela é sempre o produto
Dessa fervente alma esvaída

[...]

Muitas coisas podem ser ditas
No verso de qualquer lugar
Dizer aquilo que ninguém quer saber
Mostrar aquilo que todos querem esconder


MENDEL, G. M. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.


"Dor de cabeça" é um dos meus poemas mais significativos, tendo em vista que sempre tive intensas dores de cabeça, cuja força e frequência normalmente me transmitem medo e preocupação.

Levando em conta o panorama acima descrito, procuro transcrever no texto tudo o que penso e sinto em relação a esse transtorno - o que fiz com relativa competência (acredito eu), principalmente por ter conhecimento de causa.

Por hoje é só.
Até a próxima!