terça-feira, 9 de novembro de 2010

Poesia de gaveta

Aprisionados aos papéis
Os poemas são fiéis
À sua fria condição
De esperar publicação



MENDEL, G. M.. Humano expresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2007.


Acreditem se quiserem, dentre tudo o que publiquei até hoje, este é um dos meus poemas prediletos! E, acreditem se quiserem, é o único que eu sei de cor.

Isso porque é um poema extremamente simples, extremamente redondinho e extremamente verdadeiro, que não revela apenas a situação dos poetas iniciantes ou dos poetas tímidos, mas da poesia em si nos dias de hoje, relegada à marginalidade – não da Literatura, e sim das editoras, das livrarias, do bolso dos leitores. Sim! As pessoas lêem poesia. Só que o fazem em blogs, em jornais, em folhetos colocados por aí (em murais, muros e paredes, nos ônibus e nos metrôs). No entanto, triste do poeta que quer lançar livros, tornando-se um polivalente mendigo literário, cujas atividades incluem: escrever, revisar, fomentar, divulgar e vender as suas próprias obras. Triste do escritor que escreve o texto-martelinho: pequeno, mesmo assim difícil de engolir; que faz arder a garganta, que aquece a alma e que, em seguida, perturba.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Vocês

Tentando socializar o insocializável
Você não obtém resultados
Você não apaga o inusitado
E não detém minha memória inflamável

Tudo o que eu cuspo é bonito
Mas você não consegue entender
Tudo o que eu vivo é o que sinto
E eu não consigo esquecer

Você quer que eu vista amarelo
E que lhe agrade lhe tingindo desta cor
No entanto, permaneço opaco
Vestindo um branco fumegado de dor

Não é possível relaxar
Onde o tempo corre contra nós
Por isso continuo a desejar
Que o tempo pare...
Que o futuro esgote...
Que o passado não chore...
E a paz permaneça em nós

Como a vida pode ser bela
Se descansar em paz é estar morto?
Como irei viver sem sentir dor
Se a vida é mesmo um campo de batalha?



MENDEL, G. M.. Humano expresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2007.


Criei este poema pensando em longas conversas que tinha com um grande amigo meu. Nós refletíamos muito sobre tudo o que achávamos errado no mundo, no comportamento das pessoas. E, para o nosso azar, víamos mais coisas ruins do que boas.

Hoje procuro não ser mais fatalista em excesso. Afinal, como diz meu pai, "quem pensa não casa". Apesar de que aninhar-se com uma bela mulher é uma das poucas coisas que continuam boas neste mundo. Desse modo, quem pensa, então, casa, consegue um bom trabalho, faz a sua parte e não se preocupa muito com os outros... Por dois motivos: 01) o ser humano não merece mais tanta piedade; 02) e não se pode mais depender tanto dos outros, pois certamente, numa hora ou noutra, você levara um cano, tendo em vista que o egoísmo está, cada vez mais, corroendo o lado bom dos seres humanos.


Obs.: Muita gente irá ler isso aqui e achará bastante pesado, pessimista. Contudo, não sou pessimista em relação a mim, mas aos outros. E eles não me permitem tomar outro partido. Inclusive, se eu enxergasse coisas bonitas, escreveria sobre coisas bonitas. Porém, no cenário atual, o lixo está sobreposto às belas paisagens.