sábado, 25 de março de 2023

“O Inferno são os outros”

Neste superpopuloso mundo, uma das questões mais incômodas para as pessoas tem sido a convivência com os vizinhos. Não há quem não tenha que dividir espaços em qualquer lugar atualmente, e os convivas que se situam mais próximos de nossas residências, locais na qual todos convencionalmente desejamos ter um pouco de paz e de tranquilidade, são os principais determinantes da nossa (in)felicidade no lar, especialmente em tempos em que o altruísmo, a cultura, a educação, a tolerância e o bem comum estão em baixa.

Há indivíduos que, por exemplo, fazem festas e algazarras em qualquer dia e horário, sem levar em consideração aqueles que estão nas imediações. Se há alguém que precisa acordar cedo para trabalhar, se há alguém enfermo, se há uma criança autista por perto, dane-se. Se há alguém que deseja assistir à televisão, ler, estudar, dormir, descansar, relaxar, dentre outras ações, dane-se. Todos os moradores da vizinhança são obrigados a ouvir as músicas, boas ou ruins (não é esta a questão) e as gritarias animalescas proporcionadas pelos cidadãos alegres.

Há, também, aqueles que, por não terem nenhum compromisso no outro dia, ganhando a vida esquivando-se do trabalho, o que é bem comum no Brasil, não ligam nem um pouco para os horários em que praticam as suas atividades. Começam a ver TV no início da madrugada, com o volume no máximo, gritam tarde da noite e fazem barulhos diversos como se estivessem reorganizando a mobília ou embalando os seus pertences para uma mudança repentina. Com isso, não estou afirmando que alguns residentes da rua devem deixar de viver porque outros têm horários diferentes dos seus, mas o respeito e o bom senso precisam predominar sempre. É possível realizar qualquer atividade em qualquer ocasião, desde que, levando-se em conta o próximo, o indivíduo saiba dosar o seu nível de perturbação.

Uma terceira questão muito importante é a do lixo, não só para a política da boa vizinhança, assim como para o meio ambiente. Em relação a esse assunto, as más atitudes são inúmeras: acondicionar mal os rejeitos, deixando-os em uma situação em que qualquer vento da desgraça carregue para as residências dos outros aquilo que alguém jogou fora; depositar o lixo em frente às residências de terceiros, que nada têm a ver com a porcaria dos outros; levar para o passeio público sacolas de lixo orgânico e seco, sem dar a mínima atenção para o dia e o horário em que estas serão recolhidas, dando abertura para todo o tipo de inconveniências. É como afirma o genial Luís Fernando Veríssimo em sua crônica intitulada “O Lixo”: “Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa vida privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte mais social.”. Dizendo mais, o nosso lixo, bem como o cuidado e a atenção que destinamos a ele, retratam quem somos.

O tema “espaços”, além dos anteriores, é também pertinente. Há vizinhos que habitam o seu próprio ambiente, o seu próprio terreno, o seu próprio lote, respeitando fronteiras contratadas, adquiridas e convencionadas. Contudo, há aqueles que são verdadeiros cidadãos do mundo. O que é deles, é deles. O que é dos outros, é deles também. São os espaçosos, os abusados, os legítimos sem-vergonha. E, naqueles momentos preciosos, em que o indivíduo quer ficar sozinho, utilizando-se da (im)possível e (im)provável tranquilidade do lar, acaba sendo invadido pela existência dos vizinhos, das esposas dos vizinhos, dos filhos dos vizinhos, que, inclusive, são outro ponto bastante relevante.

Os filhos dos vizinhos, benza Deus, podem tornar-se o próprio Diabo e construírem o Inferno na frente da casa dos outros, que sempre serão considerados “crianças brincando”, “adolescentes curtindo a vida” (do ponto do vista dos vizinhos-pais, logicamente). Tudo é permitido: quebrar, sujar, berrar, bater. É aquele célebre ditado popular na prática: “Pimenta nos olhos dos outros é refresco”. Então, já que, dentro de quatro paredes, o filho perturbaria os pais, ficaria abobado com o celular nas mãos, brigaria com os irmãos por quaisquer besteiras, que vá para fora! E, uma vez lá fora, que incomode os outros, para dar um pouco de sossego àqueles que o trouxeram à luz para o criarem nas trevas da ignorância.

Enfim, tendo em vista tudo o que expus acima, a vizinhança é uma espécie de microcosmos da humanidade. E o que falta nos seus vizinhos é exatamente aquilo que carece no restante dos seres humanos: humanidade; em suma, há a inexistência do respeito, do bom senso, dos valores morais verdadeiramente postos em prática. Atualmente, é muito bonito dizer-se cristão, defensor da família, atento aos bons costumes. Porém, infelizmente, poucos dão atenção, de verdade, àquilo que Jesus Cristo ensinou aos seres humanos: o respeito, o perdão, a tolerância, a empatia, a paz, o amor, não julgar, não se considerar superior aos demais. Caso todos realmente fossem cristãos em cada atitude diária, teríamos uma vizinhança melhor, uma sociedade melhor, alguma esperança.

Tarefas para ontem!

A ansiedade dos estudantes tem se tornado um dos problemas mais desafiadores para os professores. Dia após dia, o número de crianças e adolescentes com sintomas de crises de desassossego e com diagnóstico clínico de TDAH (transtorno do déficit de atenção com hiperatividade) está aumentando visivelmente, o que afeta muito a qualidade de vida desses alunos e dificulta sensivelmente o trabalho em sala de aula.

Os jovens demonstram em seu comportamento diário o quanto estão transtornados: são imediatistas, exigindo resolver qualquer assunto, banal ou importante, no instante em que enxergam o professor diante de si; desconcentrados, sem conseguir dedicar sua atenção a algo ou alguém por mais de meia hora; e impacientes, sempre buscando subterfúgios que lhes sirvam como fuga. E essas posturas inadequadas acarretam em indisciplina, inquietação e baixo rendimento escolar.

Apesar de essas questões de saúde mental e emocional não serem uma exclusividade de pessoas em idade escolar, é nesse estágio que se tornam mais preocupantes, tendo em vista que tratam-se de indivíduos em formação, cujos aprendizados e experiências transformam-se em afirmações ou traumas para o restante da vida, com consequências que, certamente, definirão o caráter, a conduta e a carreira dessas gerações.

O fato é que o ritmo da vida humana está cada vez mais acelerado, o que, somado às cobranças que todos sofremos diariamente, por conta de tantas questões que temos a resolver “para ontem”, acarreta em uma pressão sobre-humana para a qual o corpo (e a alma) de ninguém está preparado. Por conta disso, pode-se dizer que a rotina da maior parte da população é uma bomba-relógio, prestes a explodir a qualquer momento, pois não se tem outra opção a não ser tentar dar conta de tudo aquilo que exige a nossa atenção.

E, por outro lado, é também um círculo vicioso, uma vez que o imediatismo, a desconcentração e a impaciência supracitados exigem ferramentas como o celular para agilizarmos as nossas tarefas – estratégia que, por sua vez, aumenta o imediatismo, a desconcentração e a impaciência. 

Esse é o grande problema do celular, ou melhor, da internet como um todo. Buscando oferecer praticidade a quem não tem mais tempo nem paciência para nada, proporciona para os seus usuários um leque infindável de possibilidades que são, na maioria das vezes, imediatistas, descartáveis e rasas em termos de conteúdo. Por essa razão, a população está cada vez mais carente de informações fidedignas, conhecimento de mundo, memória histórica, cultura de qualidade e, originada pela ausência dos critérios anteriores, consciência política.

Penso que, para melhorar um pouco esses sintomas da vida moderna, o mais recomendável é a imersão, em doses homeopáticas, nas diversas formas de arte, principalmente na boa e velha Literatura. Não vou subestimar o poder que a música de qualidade exerce na existência de um indivíduo, nem menosprezar o valor que um filme feito para a eternidade tem para o bom senso de cada um. Mas a leitura de um bom livro não só possui a função de divertir o leitor, levando-o a refletir a respeito do comportamento das pessoas e do funcionamento do mundo, mas também o faz: criar (imaginar) a história e os personagens junto de quem traçou aquelas linhas; acalmar as suas emoções para perceber com nitidez as sensações provocadas pela obra; libertar-se, por alguns momentos, dos pensamentos que afligem a sua alma; e concentrar-se na leitura para que a experiência seja realmente completa e transformadora. 

Cabe salientar, também, com a mesma relevância, a importância dos exercícios físicos regulares para a plena sanidade do ser humano, porque não basta cuidarmos da mente sem cuidarmos do corpo. Muito embora eu pense que, na atualidade, precisamos mais de cidadãos intelectual e emocionalmente sadios do que fisicamente saudáveis.

Portanto, por mais que o cotidiano não nos dê nem um minuto para respirarmos, precisamos encontrar brechas na nossa rotina (com muita organização, evidentemente) para nos dedicarmos ao nosso bem-estar e à nossa noção de mundo. É necessário sairmos um pouco desse círculo vicioso e tentarmos atrasar a bomba-relógio, para que não sejamos tão descartáveis como aquilo que consumimos na internet.

Tenra autodestruição

Embora não sejam uma novidade, é amedrontador para qualquer cidadão com algum discernimento tomar ciência dos hábitos autodestrutivos que os jovens vêm mantendo nos últimos anos, em especial durante e depois do período mais complexo da pandemia de COVID-19. Mergulhar profundamente em jogos virtuais, deixando de estudar e até de dormir, beber energéticos como se fossem água, utilizar livremente narguilés e cigarros eletrônicos, eis algumas das práticas que esse público adota diariamente, sem prestar a mínima atenção aos conselhos, recomendações e avisos dados por alguns adultos preocupados. 

Aqueles que convivem atualmente com adolescentes (e, até mesmo, com crianças) ouvem de forma recorrente esses pequenos indivíduos em formação comentando a respeito de suas práticas diárias. Eu, por exemplo, escuto muito os meus alunos afirmando, sem qualquer vergonha, que passaram todo o período em que estiveram fora da sala de aula, inclusive a madrugada, grudados em jogos virtuais no celular, dormindo por, no máximo, duas horas antes de irem para a escola e “esquecendo-se” de estudarem para as provas do dia seguinte e de realizarem as suas tarefas de casa. Além disso, enquanto estão imersos nesse universo paralelo extremamente nocivo, ingerem as famosas bebidas energéticas à vontade, para, inclusive, suportarem ficar tanto tempo em frente às telas.

Outro costume terrível que essa parcela da população está adquirindo é o uso frequente de narguilés e de cigarros eletrônicos. Pré-adolescentes combinam, como se estivessem marcando encontros para tomarem chimarrão e comerem pipoca, reuniões na casa de um(uma) deles(as) para fumarem aquilo que tratam por “narg”. Caso você duvide, basta perguntar para um grupo ou uma turma se alguns deles já experimentaram narguilés e cigarros eletrônicos, ou se conhecem alguém que tenha experimentado, que, certamente, histórias sem fim surgirão para a mais completa estupefação do ouvinte.

O pior é que, por diversas ocasiões, sabe-se que os pais desses estudantes têm conhecimento do que estes fazem, isso quando não possuem os mesmos hábitos e os incentivam. É quase absurdo pensar nisso, mas chega-se às conclusões de que uma quantidade considerável dos responsáveis por crianças e adolescentes têm exatamente a idade mental de uma criança ou de um adolescente, e de que os únicos exemplos que podem proporcionar a esses seres em formação são de ações irresponsáveis que eles não poderiam ou não deveriam repetir.

Por outro lado, quando profissionais engajados, como professores, enfermeiros, farmacêuticos, médicos, psicólogos, tentam alertar sobre os riscos de tais atitudes, não são ouvidos nem levados a sério. São vistos apenas como mentirosos, exagerados, chatos, ultrapassados.

Portanto, ainda que não seja nova a preocupação com a entrada dos jovens no mundo das drogas e dos maus hábitos, como a ingestão cada vez mais precoce de bebidas alcoólicas, de cigarros e de maconha, bem como a descoberta também prematura da atração física e do sexo, o aumento das possibilidades de autodestruição e de desvirtuamento do indivíduo está deixando aqueles que trabalham com esse público profundamente espantados. Trata-se de um cenário surreal, no qual constata-se que a juventude aprende em um piscar de olhos tudo aquilo que não deveria, enquanto demora um tempo precioso para aprender o que precisa, quando aprende.

Engenharia educacional

Há alguns anos, quando começaram a comentar a respeito de uma nova grade curricular para a educação básica brasileira, fiquei muito animado. Pensava realmente que os vigentes Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) estavam ultrapassados e não contemplavam as atuais necessidades dos estudantes.

Eu, enquanto professor bem-intencionado e sonhador, imaginava que a reestruturação dos currículos excluiria do processo tudo aquilo que não fizesse mais sentido de ser ensinado e que só levasse os discentes ao desinteresse, e, consequentemente, proporcionaria mais tempo para que os professores trabalhassem com aspectos mais relevantes para os jovens, em especial conhecimentos que os indivíduos precisam ter para serem profissionais responsáveis e capacitados, bem como competências que os cidadãos carecem para suprir suas demandas no convívio em sociedade.

Por isso, assim que me deparei com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), um modelo de elefante branco burocrático que emperra o ensino em nosso país, com suas páginas e mais páginas de conteúdos desconexos (entre si e com a realidade), inúteis (na maior parte das vezes) e invencíveis (no pior sentido do termo), sem mencionar os códigos fornecidos pelo imensurável volume, que, com certeza, “facilitam” a vida dos professores, fiquei pasmo.

Por um lado, os Parâmetros Curriculares Nacionais estavam desatualizados por cobrarem dos alunos muitos assuntos que não fariam a menor diferença na vida deles, e que tornavam-se necessários apenas para que os vestibulandos e os concurseiros estivessem preparados. E, normalmente, essa carga pesada de informações sobressalentes oferecia espaço reduzido para desenvolver a leitura e a escrita dos estudantes, aspectos importantes de verdade em Língua Portuguesa, só para citar o exemplo do que era recorrente em uma disciplina.

Contudo, a Base Nacional Comum Curricular não apenas cobra a mesma enxurrada de conteúdos imprestáveis já existentes na grade anterior, como também distorce, embaralha e avacalha a ordem em que esses são cobrados, assim como faz o desfavor de inflar mais ainda os currículos escolares com baboseiras, engessando os professores e deixando-os impotentes, visto que, sendo impossível cumprir o básico da Base, não há espaço para “inventar moda” ou para “criar atividades diferenciadas”.

E, para favorecer ainda mais a educação em nossa nação, a BNCC foi implantada para valer pouco antes de a pandemia de COVID-19 mexer com as prioridades da sociedade inteira e obrigar grande parte da população a permanecer em suas residências. Sendo assim, neste momento, ao retornarem para o ensino presencial, os estudantes e os professores estão tendo de lidar com duas lacunas de aprendizado concomitantes: aquela causada pelo ensino à distância, ocasionada pelo período de aulas remotas e/ou escalonadas; e, também, com aquela provocada pela alteração de grade curricular, PCN para BNCC, a qual, ao entrar em vigor, abriu buracos no ensino por não promover uma correta adaptação de um documento para o outro.

Isso só salienta aquilo que percebo há anos, na minha prática diária em sala de aula. Os alunos, por mais que apresentem indisciplina, desrespeito e falta de comprometimento, configuram o menor dos problemas para os professores. Na verdade, os fatores que mais atrapalham o trabalho docente são: a excessiva burocracia, que, boa parte das vezes, é desnecessária; os projetos de desenho, redação e afins que caem de paraquedas nas escolas, atravancando as lições em função de divulgar campanhas, marcas e eventos; a obrigatoriedade do uso de determinados materiais e/ou grades curriculares, que podam a autonomia e a criatividade dos professores, na busca de um alinhamento e de uma coerência impossíveis e inexistentes, tamanhas as diversidades e desigualdades existentes no Brasil.

Ou seja, para o educador brasileiro, oferecer um ensino significativo e de qualidade aos educandos é tarefa sobre-humana, tendo em vista que todas as etapas soam como se tivessem sido planejadas para que a educação não dê certo, não seja agradável, não esteja condizente com as aspirações dos estudantes e não se torne uma ferramenta de motivação para os participantes do ambiente escolar.

Enquanto isso, nas salas de aula…

1. É notável a dependência que as crianças e os adolescentes possuem em relação aos seus celulares.  Muitos inventam as mais diversas artimanhas para tentar não ficar longe de suas chupetas tecnológicas e, desse modo, evitar a abstinência. E esse vício por tais maquininhas está cada vez mais latente no desempenho escolar dos jovens. Nota-se, por exemplo, a falta de criatividade (aliada à insegurança) que a maioria dos estudantes demonstra atualmente, pois estes não realizam nenhuma tarefa sem fazer uma busca prévia na internet. Da elaboração de um simples desenho à escrita de um trabalho discursivo sobre um livro literário, o recurso eletrônico tornou-se indispensável para que os alunos construam alicerces que embasem, mesmo que de maneira informal e incorreta, tudo aquilo que desenvolvem. Nesse cenário, para os professores que já consideravam desesperadoras as pesquisas (errôneas e errantes) feitas pelos educandos na Wikipédia, surgiu o Brainly, para acabar com qualquer esforço intelectual por parte dos discentes.

2. Outro fato que se pode observar nos últimos anos é a diminuição dramática de conhecimento geral por parte dos estudantes. Por exemplo, se os professores comentam algo sobre uma personalidade dos âmbitos artístico, esportivo, político ou acadêmico, dificilmente algum aluno saberá da existência da pessoa citada. Seja John Lennon, Machado de Assis, William Shakespeare, Ayrton Senna, nada daquilo que esteja fora do senso comum naquele exato instante ou que não permeie o leque de interesses virtuais dos jovens de hoje faz parte do conhecimento deles. Por isso, está cada vez mais complicado de os docentes partirem daquilo que os estudantes já sabem para explicar qualquer conteúdo, porque dificilmente eles já ouviram falar a respeito de algo ou de alguém que realmente importe socialmente. Só dominam aquilo que está relacionado a influenciadores digitais, funkeiros e sertanejos (que se tornaram famosos ontem para voltarem ao anonimato amanhã). E, em relação ao resto, são como a personagem Chiquinha do programa televisivo “Chaves”, que não conhece nada de História porque ainda não tinha nascido quando aconteceram os eventos históricos.

3. Penso que, dentre todos os mecanismos de informação existentes até o momento, a internet é, simultaneamente, o mais libertador e o mais limitador, tendo em vista que essa ferramenta, apesar de apresentar o universo diante de quem a utiliza, acaba, na maior parte das vezes, por servir somente para que o indivíduo se “especialize” naqueles segmentos que lhe são de interesse particular. E, ainda que o usuário tenha a liberdade de buscar por meio dela exatamente aquilo que deseja, tendo a oportunidade de conhecer qualquer assunto de qualquer lugar do mundo em qualquer lugar do mundo, grande parte das pessoas acaba limitando-se a procurar mais a respeito dos conteúdos medíocres que estão em evidência naquele exato instante, uma vez que a utilização inadequada do ciberespaço é um convite ao comodismo, à falsa inclusão e ao desejo de aparecer. Ou seja, o ambiente virtual é diferente de outras fontes de informação, como o jornal, a revista, o rádio e a televisão, que, por mais combatidos e antiquados que sejam, oferecem ao consumidor um leque mais abrangente e confiável de possibilidades de crescimento cultural e intelectual. Pois, enquanto as mídias mais tradicionais demandam ética, pesquisa, apuro, preparo e profissionalismo, tudo aquilo que é publicado na internet ignora completamente essas condições. Nesse contexto, percebe-se que as crianças e os adolescentes muito raramente folheiam um jornal ou uma revista, não sintonizam uma emissora de rádio nem para ouvir os jogos de seu time de futebol favorito e só ligam a televisão para acessar serviços de streaming. E os pais normalmente não interferem nessas práticas, visto que têm a mesma responsabilidade, igual maturidade e asseguram-se de que vale qualquer coisa para que os seus filhos mantenham-se quietos.