terça-feira, 12 de junho de 2018

A ocasião faz o terror

Alguns alunos me pediram para que eu contasse histórias de terror para a turma deles. Após encontrar muitos textos escritos de maneira incompetente, pois narravam acontecimentos interessantes mas com erros grotescos, tentei escrever alguma coisa nesse sentido.

Aqui vai o primeiro:



A ocasião faz o terror

O fim de semana finalmente havia chegado.

Numa sexta-feira 13, decidi sair para caminhar à noite. Pretendia relaxar um pouco e beber alguma coisa; talvez, até mesmo, conhecer alguém interessante.

Durante a minha caminhada, passei por uma conveniência e comprei uma cerveja. Em seguida, avistei uma praça. Fui até lá e sentei-me em um banco um tanto quanto retirado, para poder esvaziar a minha garrafinha em paz.

Depois de um tempo, estando meio distraído, não vi quando uma bela moça sentou-se ao meu lado. Ou melhor, percebi a sua presença apenas no momento em que me perguntou: “Boa noite! Você teria um isqueiro, por favor?”. Disse a ela que não, que não tinha o isqueiro, pois não fumava. Mesmo assim, permaneceu ao meu lado e começamos uma longa e prazerosa conversa.

Constatei que a jovem estava afim de mim, pelo que falava, pelo jeito que me olhava e pela sua linguagem corporal. Por isso, arrisquei um beijo. Ela não o recusou. Pelo contrário, acredito que era tudo o que ela estava querendo, porque não me deixava mais separar meus lábios dos seus. Foi quando, em meio à nossa pegação, observei que tinha uma cicatriz horrenda no pescoço. Ao questioná-la sobre isso, afirmou, triste e encabulada, que havia sido um acidente. Portanto, evitando magoá-la, não mais toquei no assunto. Logo, dei-lhe um apertado abraço e voltamos a nos beijar.

De repente, em meio ao nosso êxtase, perguntei qual era o seu nome. Ela se esquivou e, por sua vez, me perguntou que horas eram. Eu respondi que faltavam somente alguns poucos minutos para a meia-noite. Sobressaltada com a minha resposta, levantou-se e saiu correndo, gritando que precisava ir embora.

Achei tudo aquilo muito estranho, bem como lamentei não ter tido tempo de pedir mais informações a seu respeito, pois a achei bastante interessante. Enfim, após esse balde de água fria, acabei indo para casa.

No sábado de manhã, assim que me levantei, fui à padaria para tomar um café da manhã bem especial. Pedi um café espresso e um folhado de presunto e queijo a atendente. Sentei-me em um lugar perto do balcão para fazer a leitura do jornal do dia. Apesar do fato acontecido na véspera, eu havia acordado particularmente bem. Contudo, algo no jornal me deixou extremamente chocado. Fiquei branco como gesso e comecei a tremer tanto que derrubei meu café. Na parte baixa da primeira página constava uma nota onde familiares convidavam os leitores para a missa de sétimo dia de falecimento de uma bela moça. Exatamente aquela com quem curti a noite passada, reconheci ao ver a foto.

Estarrecido, peguei o meu celular na mão, escrevi o seu nome completo em um site de buscas e a notícia mais recente encontrada sobre ela era: “Jovem é assassinada por namorado ciumento”. Ao ler o restante do texto, descobri que o assassino arrastara a lâmina de uma enorme faca na veia jugular da vítima e que o crime ocorrera na sexta-feira retrasada, à meia-noite.

Eis aí o motivo daquela cicatriz...

quarta-feira, 29 de março de 2017

O sono do sol (17/03/2011)

Não se pode ter medo da noite,
Nem se pode ter medo do escuro.

Anoitece porque o sol também precisa dormir,
Exatamente como nós,
Depois de aprontar das suas.

Assim que o sol pega no sono,
A vigilante lua entra em ação,
Para garantir um sono tranquilo a todos,
Inclusive ao sol,
Tão importante por alegrar nossos dias.

Sorte que o sol acorda cedo.
E, dessa maneira,
Nós podemos ir à escola
Quando já está claro.



(MENDEL, G. M.. Entretanto. Erechim-RS: AllPrint Varella, 2013.)

terça-feira, 14 de março de 2017

O que há lá no alto? – I (16/03/2011)

A partir de agora, publicarei alguns poemas do anexo "Poesia grandona para gente pequenina", publicado ao final do livro "Entretanto" e que, inicialmente, deveria ser uma obra à parte.

Como o próprio nome sugere, nessa seção encontram-se dez poemas para o público infantil. Então, aqui vai um deles, "O que há lá no alto? - 1":



As nuvens brincam
De adivinhação
Quando as crianças
Olham para elas.

Assim, viram ovelhas,
Viram vacas,
Viram tudo aquilo
Que você imaginar.

Mas elas choram
Quando essas crianças
Não brincam com elas.
É o medo da solidão.

É o que acontece quando chove.



(MENDEL, G. M.. Entretanto. Erechim-RS: AllPrint Varella, 2013.)

quarta-feira, 1 de março de 2017

Poeminha miserável (11/09/2013)

Esta coisa de que tempo é dinheiro
não é comigo.
Para mim, o tempo que passa
é o tempo que não se vive...
(e não se ganha nada com isso!)

Cada dólar que eu consigo
não me dá um dia a mais de vida
– tampouco de saúde e de felicidade.
Cada dólar que eu consigo
só me mostra a mediocridade do homem,
que deixa o essencial de lado
e vive de ostentação e de vilania.



(MENDEL, G. M.. Entretanto. Erechim-RS: AllPrint Varella, 2013.)

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Irracionais (30/08/2013)

Um cão de rua olhou pro céu
E pediu perdão aos homens:
“Eles não sabem o que fazem.
Eles são irracionais...”

Um passarinho me falou
Que o sonho dele era voar:
“Eles não sabem o que fazem.
Eles são irracionais...”

Um gato preto maltratado
Olhou pra morte e, então, pensou:
“Eles não sabem o que fazem.
Eles são irracionais...”

Um tal poeta esquecido
Olhou pro público e declamou:
“Eles não sabem o que fazem.
Eles são irracionais...”



(MENDEL, G. M.. Entretanto. Erechim-RS: AllPrint Varella, 2013.)