sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Bullying

Vai brincando...
Vai brincando...
Vai brincando...

Vai sofrendo...
Vai sofrendo...
Vai sofrendo...

dor!
Dor!
DOR!

trauma!
Trauma!
TRAUMA!

isolamento.
Isolamento.
ISOLAMENTO.

Rótulo aplicado no sangue;
Desconforto interminável;
Existência inadequada;
Consequências irreversíveis.


(MENDEL, G. M.. Sobretudo. Erechim-RS: EdiFAPES, 2010. p. 37.)


Este poema, com certeza, retrata muito bem o que sente uma pessoa que sofre (ou já sofreu) de bullying. Infelizmente, estou em condições de dizer esse "com certeza", porque tenho conhecimento de causa.

Para quem ficou meio perdido com esse comentário, basta ler este relato: 
http://restolholiterario.blogspot.com.br/2011/05/o-bullying-e-eu.html

Obrigado pela atenção!

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Sobre o azar

Todos os dias, um cão passava fome. Olhava para um homem e este lhe dava um coice. Olhava para uma mulher e esta lhe expulsava a gritos. Fugia de carros e de bicicletas. Ninguém lhe dava atenção. Também, como ele poderia pedir comida, se não sabia comunicar sua fome? E, ultimamente, nem do lixo deixavam pegar! A sorte vinha quando chovia... Pelo menos, nesses dias, ele podia beber das poças.

***

Todos os dias, um homem passava fome. Pedia para um homem e este lhe dava um pão dormido. Pedia a uma mulher e esta lhe dava uns trocados. Desviava de carros e de bicicletas, embriagado de álcool e dor. Sentado num banco da praça, comia do pão. Com os trocados que havia arrecadado, conseguia um pouco de droga, para esquecer do azar que lhe perseguia.

***

Na praça, o cão encontra um homem desacordado num banco. Ao lado do homem, um pequeno pedaço de pão. Sorrateiramente, o cão pega o pão e corre. E, assim, sobrevive, driblando, travesso, a maldade do homem.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Iguarias

O passado tem gosto de docinho de coco.
O presente tem gosto de noz.
O futuro tem gosto de bem-casados.

A vida tem cor de morango
E cheira a perfume de baunilha –
Café e chocolate amargos,
Atiçando a doçura dos prazeres.


(MENDEL, G. M.. Sobretudo. Erechim-RS: EdiFAPES, 2010. p. 36.)

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

De corpo e alma

Para que você consiga dançar
Não é seu corpo que deve estar flexível,
E sim, o seu âmago.

Para que você consiga apaixonar
Não é seu corpo que deve estar em forma,
E sim, o seu âmago.

Para que você consiga ser feliz
Não é seu corpo que deve estar sorrindo,
E sim, o seu âmago.


(MENDEL, G. M.. Sobretudo. Erechim-RS: EdiFAPES, 2010. p. 35.)

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Sobre cores, meninas e medos

A menina mudou a cor do seu cabelo.
E, juntamente com os seus tons originais,
Ela perdeu a sua autenticidade.

Agora já não era mais um fracasso.
Tornou-se mais uma...
Mais uma daquelas com as quais
Os rapazes querem ficar.

Então, estava pronta para conquistar o mundo,
Pois tinha certeza de que o mundo queria conquistá-la.

Por isso, quis apenas que a vida a levasse,
E, desse modo,
A menina foi levada.


(MENDEL, G. M.. Sobretudo. Erechim-RS: EdiFAPES, 2010. p. 34)


O poema "Sobre cores, meninas e medos" fala a respeito das mulheres que buscam adequar-se à estética da moda e, assim, acabam com a sua verdadeira natureza. 

Na minha opinião, esse é um dos meus melhores textos.