De um sono frustrado
Rodeado de medos
E de sonhos castrados
Chega na empresa
Já está estressado
Coloca-se à mesa
Pensando no tráfego
Alucinado pelo café
Fiel amigo no desespero
Ele sabe que pode ter fé
Pois Deus lhe deu um emprego
O serviço é turbulento
E ele deve produzir
Pois precisa garantir
O seu modo de sustento
[...]
O dia foi torturante
O trabalho foi estressante
A dor já não quer acabar
E o humor já não quer desabrochar
Ele chegou em casa
Depois de perder dois turnos
Só pensando em sua desgraça
Embriagando-se de ares soturnos
Não sabe mais o que fazer
Já não lhe resta tempo para pensar
Faz as contas do próximo mês
Percebe que o salário não vai durar...
Nem salvar a sua vida
Nem trazer sua felicidade
Nem divertir os seus dias
Nem recompor sua liberdade
Então, ele dorme
Ou... tenta dormir
Pois o sono lhe foge
Não lhe deixa sumir
Por isso adormece
Quando já é outro dia
Mas nunca se esquece
De fantasiar com magia
MENDEL, G. M.. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.
Eu adorava o poema "Classe média" até algum tempo atrás, pois tinha conseguido expressar nesse texto tudo aquilo que desejava: elaborar uma espécie de poema-narrativa, onde fosse retratado o cotidiano do homem moderno comum. Porém, revendo o resultado agora, não seria algo que eu escreveria e publicaria atualmente... (Não sei. Acho que perdi a graça - embora continue acreditando nas palavras que coloquei nos versos acima.)
***
Tanto o primeiro quanto o segundo livros são precariamente escritos, apesar de sugerirem reflexões extremamente válidas - o que me deixa muito feliz. Posso até não concordar nos dias de hoje com inúmeras ideias que desenvolvi nessas obras, mas é preciso admitir, humildemente, que, pelo menos, são volumes de conteúdo, que convidam a pensar.
Até a próxima postagem, pessoal!