terça-feira, 9 de agosto de 2011

Classe média

Acorda cedo
De um sono frustrado
Rodeado de medos
E de sonhos castrados

Chega na empresa
Já está estressado
Coloca-se à mesa
Pensando no tráfego

Alucinado pelo café
Fiel amigo no desespero
Ele sabe que pode ter fé
Pois Deus lhe deu um emprego

O serviço é turbulento
E ele deve produzir
Pois precisa garantir
O seu modo de sustento

[...]

O dia foi torturante
O trabalho foi estressante
A dor já não quer acabar
E o humor já não quer desabrochar

Ele chegou em casa
Depois de perder dois turnos
Só pensando em sua desgraça
Embriagando-se de ares soturnos

Não sabe mais o que fazer
Já não lhe resta tempo para pensar
Faz as contas do próximo mês
Percebe que o salário não vai durar...

Nem salvar a sua vida
Nem trazer sua felicidade
Nem divertir os seus dias
Nem recompor sua liberdade

Então, ele dorme
Ou... tenta dormir
Pois o sono lhe foge
Não lhe deixa sumir

Por isso adormece
Quando já é outro dia
Mas nunca se esquece
De fantasiar com magia



MENDEL, G. M.. Humano impresso. Erechim-RS: EdiFAPES, 2008.


Eu adorava o poema "Classe média" até algum tempo atrás, pois tinha conseguido expressar nesse texto tudo aquilo que desejava: elaborar uma espécie de poema-narrativa, onde fosse retratado o cotidiano do homem moderno comum. Porém, revendo o resultado agora, não seria algo que eu escreveria e publicaria atualmente... (Não sei. Acho que perdi a graça - embora continue acreditando nas palavras que coloquei nos versos acima.)

***

Tanto o primeiro quanto o segundo livros são precariamente escritos, apesar de sugerirem reflexões extremamente válidas - o que me deixa muito feliz. Posso até não concordar nos dias de hoje com inúmeras ideias que desenvolvi nessas obras, mas é preciso admitir, humildemente, que, pelo menos, são volumes de conteúdo, que convidam a pensar.

Até a próxima postagem, pessoal!